O nosso mestre João
Batista de Brito relembra, em sua coluna no Contraponto, o primeiro filme que
viu na vida - na verdade, um episódio do seriado A mulher tigre. E pergunta
aos leitores: Qual o seu primeiro filme?
Difícil responder. Não lembro “um” filme. Tenho uma meia dúzia de títulos que guardo na memória como “experiências fundadoras”, como diz o pessoal da psicanálise.
Um dos mais antigos é O Mundo em Perigo (“Them!”) de Gordon Douglas, história de formigas gigantes que raptam duas crianças. Me identifiquei com elas, e lembro ainda hoje a sensação de repulsa ao vê-las escondidas no meio das larvas do formigueiro.
Difícil responder. Não lembro “um” filme. Tenho uma meia dúzia de títulos que guardo na memória como “experiências fundadoras”, como diz o pessoal da psicanálise.
Um dos mais antigos é O Mundo em Perigo (“Them!”) de Gordon Douglas, história de formigas gigantes que raptam duas crianças. Me identifiquei com elas, e lembro ainda hoje a sensação de repulsa ao vê-las escondidas no meio das larvas do formigueiro.
Houve também o King
Kong original, que vi no Cine Avenida, levado por Maria de Severina, que era
uma espécie de governanta, cozinheira e faz-tudo lá em casa. O gorila e os dinossauros me impressionaram,
mas não tanto quanto a primeira imagem da ilha, na chegada do barco, quando
vemos aquela muralha imensa, e o capitão comenta que ninguém sabe quem a
construiu, ou o que existe por trás dela.
Teve também O Ladrão de Bagdá com Sabu (dirigido por Alexander Korda), cujos efeitos especiais ainda hoje são notáveis; apropriei-me de algumas de suas imagens para o meu romance árabe, A Máquina Voadora.
Teve também O Ladrão de Bagdá com Sabu (dirigido por Alexander Korda), cujos efeitos especiais ainda hoje são notáveis; apropriei-me de algumas de suas imagens para o meu romance árabe, A Máquina Voadora.
Outro que nunca
esqueci foi O escudo negro, com Robert Taylor, filme ambientado na Guerra dos
Cem Anos e que durante muito tempo me fez ser fã dos ingleses e detestar os
franceses. Havia também os seriados, e
o mais antigo que me lembro era A Sombra do Escorpião, uma daquelas séries
escuras e fragmentadas de estúdios como a Republic. E os onipresentes faroestes.
Mais do que filmes
específicos, no entanto, o que continua latente em minha memória é o conjunto
de impressões sensoriais dos filmes daquele tempo. Zapeando na TV, vejo um
faroeste besta dos anos 1950: paro, fico assistindo durante 10 minutos só para
saborear aquele granulado de imagem P&B ou aquelas cores meio pintadas. A
música, sempre uma orquestra que parece estar tocando no estúdio ao lado, meio
distante, meio abafada mesmo quando estridente. Barulho de porta, barulho de
tiro, motor de foguete, zumbido de raio desintegrador... tudo é diferente.
São
coisas muito específicas e que não existem mais, e toda vez que as escuto ou
enxergo elas fazem ressurgir o menino intacto dentro de mim. Cada instante que
vivemos pode ser evocado integralmente e se impor ao presente, desde que a
gente produza os estímulos certos, forneça as senhas. O passado é uma janela
que não se fechou, foi apenas minimizada e precisa somente de um clique para se
abrir de novo, em sua glória rudimentar, com uma voz gritando “aiô, Silver!”.