Muitos jovens (ou nem tanto) me perguntam às vezes: “Como se faz pra trabalhar como tradutor?” O mais simples é mandar um email para uma editora, dizendo que quer traduzir e as suas áreas de preferência. Eu costumava dizer: “Traduzo do inglês, e tenho bom conhecimento de ficção científica, fantasia, terror e policial”. Minhas primeiras traduções (sob pseudônimo) foram de romances de amor tipo Sabrina ou Bianca, e livrinhos de faroeste. Pegue. É treinamento, é um aprendizado sobre você mesmo. Não ligue se o livro é bom. Faça o melhor possível. Se você é incapaz de traduzir um livro ruim, nunca vai traduzir um livro bom.
Às vezes eu juntava à carta um pequeno texto (1 ou 2
páginas) com um exemplo de tradução feita por mim. Escolhia um conto curto ou trecho de livro, mandava
o original e minha tradução para eles terem uma idéia. Isso não elimina uma fase indispensável: a
editora lhe manda um texto (em geral um capítulo de um livro) e lhe dá um
prazo, digamos uma semana.
É o teste. Todo mundo passa por isso, se nunca traduziu
profissionalmente, mesmo que tenha todos os diplomas de Cultura Inglesa ou
Aliança Francesa. Saber uma língua não implica saber traduzir. Saber traduzir é
saber escrever. Ser tradutor é ser escritor. Se você não se acha capaz de escrever
um livro saído de sua própria cabeça, seja literatura ou não-ficção (um livro
técnico sobre sua profissão, por exemplo), como diabo vai ser capaz de escrever
em português um livro de outro cara, escrito noutra língua?
Se você pode dar tempo integral a isso, ótimo. Se não,
reserve algumas horas por dia só para traduzir. Não importa se num dia você fez
dez páginas e no outro só fez uma. O importante é avançar. E não ficar muito
tempo “longe do livro”. Às vezes a gente fica duas, três semanas sem pegar na
tradução, pensando em fazer um “esforço concentrado” no final; isso pode dar
certo, ou não. Escolha o método que produza melhores resultados.