A reta final do seriado Breaking Bad (cujo último episódio
será exibido hoje à noite) foi uma porrada atrás da outra. Estes últimos
capítulos têm trazido um bombardeio. Mortes cruéis de gente inocente. Atos de
coragem espantosa e de covardia repugnante. Momentos dolorosos de revolta de
quem percebeu ter sido enganado a vida inteira por alguém em quem confiava...
A série (para quem não sabe) conta a transformação do tímido
professor de química Walter White num fabricante e traficante de metanfetamina,
passando por cima de tudo e de todos, praticando assassinatos, tortura,
chacinas, o escambau. Ao saber que tem câncer, ele decide enriquecer para
garantir o futuro da família. Numa narrativa quase do tipo “o médico e o
monstro” (com grande atuação de Bryan Cranston no papel), ele tem momentos em
que é o marido leal e o pai carinhoso que foi em outros tempos, e segundos
depois se transforma no cruel e implacável “Heisenberg”, o pseudônimo que
adotou no mundo do crime.
Esse nome remete ao princípio célebre da Física, o
“Princípio da Incerteza” formulado por Werner Heisenberg. Pode ter sido adotado
por mero despiste (Walter pode ter pensado em usar como pseudônimo o nome de um
químico, pode ter achado que era bandeiroso demais, e em vez disso escolheu um
físico que todo mundo conhece). Mas pode ter um significado simbólico. O
Princípio de Heisenberg diz que não podemos calcular ao mesmo tempo a posição e
a velocidade de uma partícula sub-atômica. Ora, se determinamos sua posição,
não podemos saber com que velocidade estava se movendo: é como a foto de um
carro ou de um avião. Se calculamos sua velocidade, isso implica em considerar
seu movimento ao longo de um certo trecho de espaço, e assim não podemos
apontar uma única posição, pois há uma sucessão delas.