O
Cineclube Estação Botafogo (sinto muito, só sei chamá-lo assim) está ameaçado
de fechar, por dívidas e outros problemas.
Ele foi no Rio de Janeiro, nos anos 1980, o que a Cinemateca do MAM
tinha sido quinze anos antes. Multidões superlotavam aquela calçada estreita
para rever Blade Runner numa época em que ele não estava acessível na
torneira de cada computador. Íamos todos atraídos pelos mesmos filmes, filmes
imprevisíveis que imantavam pessoas afins. Foi saindo de uma sessão de Billy
Liar de John Schlesinger que encontrei com Homero de Carvalho (hoje na
Fiocruz) e o poeta/publicitário Ulisses Tavares, meu “primo”, e pude fazer esta
apresentação histórica: “Homero, este é Ulisses. Ulisses, este é Homero”; e
fomos tomar cerveja.
Nos
distantes anos 1980 não havia a atual proliferação de bares dali até a Praia de
Botafogo, e os poucos balcões disponíveis eram tão disputados quanto as últimas
poltronas nas sessões de despedida (quando uma cópia em celulóide cujo
certificado de censura estava para vencer era exibida pela última vez antes de
ser incinerada. O mundo já foi mais absurdo.)
O
Estação, contudo, não é apenas a memória afetiva de todos nós. Era para mim,
recém-chegado ao Rio, a revelação de uma realidade empresarial que jamais teria
passado pela minha cabeça. Coincidiu com
outras iniciativas da rapaziada carioca que fizeram um sucesso estrondoso, tais
como o Circo Voador e o Planeta Diário, todos decolando quase ao mesmo tempo.
Era possível fazer sucesso e ganhar dinheiro fazendo o que cada um gostava, e
atraindo um público capaz de gostar também e de entender tudo.
O
Estação precisa sobreviver. O mercado
precisa dele, precisa de grupos capazes de criar os sucessos do futuro, e não
apenas de realimentar os blockbusters que já chegam pagos lá de fora. Foram as
sessões no Estação que fizeram Down by Law de Jim Jarmusch ser batizado em
português Daunbailò, porque os fãs não admitiam outro nome. E senti ali a força que um movimento de fãs,
intenso, diversificado, pode exercer num mercado onde se aposta somente no que
é “tiro certo”. Não penso apenas no
passado distante; onde mais eu teria podido ver They Live e Holy Motors em
2013, senão ali?