(foto: John Stanmeyer)
Que fim levou Marquinho Honolulu, lá de Olinda, que estava em todas as festas, não cantava, não dançava, ficava só sentado fumando e olhando as meninas, volta e meia se apaixonava pela namorada de alguém e entrava num processo etílico que durava meses, e a quem eu tentei inutilmente explicar como era o sistema correto, 4-4-3-3, de fazer sonetos?
Que fim levou Dona Terta, que todo dia pegava uma cadeira
de palhinha, levava até embaixo de uma árvore frondosa em frente à oficina
mecânica onde trabalhava seu filho único, Rondismar, e ficava ali fazendo
crochê e ouvindo música no radinho de pilha, assim como quem não quer nada, e
ai dos colegas de oficina se por causa disso mangassem de Rondismar, que tinha dois
metros e cem quilos?
Que fim levou Vânder de Souza, que estudou comigo no
Estadual da Prata, bem católico, bem certinho, e o único cara que eu já vi
fazer um problema de palavras-cruzadas sem olhar o desenho, apenas ouvindo a
gente dizer o enunciado e o número de letras, mantendo na memória cada letra de
cada casa já preenchida?
Que fim levou Sônia Lima, a flor do meu bairro, musa
unânime dos adolescentes locais, que desfilava inatingível do alto de seus três
anos a mais do que eu, loura, nórdica, simpática, que se formou em enfermagem,
e, dizem os invejosos, acabou casando com o primeiro doente a quem atendeu?
Que fim levou Dona Amarílis, doceira, quituteira, mãe de
cinco filhos, esposa exemplar, que aos cinquenta anos ganhou numa loteria qualquer
(e nem foi essas fortunas todas, porque acabou em menos de dois anos), largou
tudo e foi viver com um primo em Caruaru?
Que fim levou Dandinho, que morava perto da bodega de Seu
Anísio, trabalhava numa oficina, e um dia apareceu de cabeça raspada e disse
que estava fazendo um treinamento ninja secreto para entrar na Polícia Federal,
mas antes do fim da semana a irmã dele revelou que era piolho?
Que fim levou Seu Sueldo, aquele velho que vivia se balançando
numa cadeira no terraço, com um caderninho na mão, anotando coisas, não se sabe
o que, porque não era jornalista nem policial, era um ferroviário aposentado, e
talvez por isso mesmo vigiasse tanto a rua, antes do filho ser transferido para
uma agência bancária em Conselheiro Lafaiete e levá-lo consigo?