(Ilustração: Mario Bag)
Um jovem autor teve seu primeiro livro recusado por uma
grande editora, e veio se queixar: “Editores são mercenários, só querem
publicar coisas medíocres que vendem muito, como Paulo Coelho ou 50 Tons de
Cinza. Eles boicotam o autor novo. O
governo deveria obrigar as editoras a publicar os novos autores, porque é uma
questão de interesse social, de promoção da cultura.”
Tudo errado, e vou dizer por que. Editores não são necessariamente mercenários, embora muitos
sejam, assim como escritores não são necessariamente beberrões, embora muitos
sejam. Todo editor gosta de publicar coisas que vendem muito – porque vendem
muito, não porque são (ou deixam de ser) medíocres. Alguns dos maiores
best-sellers que já passaram pelas livrarias brasileiras foram assinados por
Umberto Eco, Rubem Fonseca, Milorad Pavic (Dicionário Khazar). Mas se eu fosse editor, gostaria dos
medíocres que vendessem bem, porque isso me possibilitaria publicar os autores
que vendem pouco (ou seja, a imensa maioria do total).
O governo não tem o direito de obrigar editores a publicar
autores individuais. No máximo, o governo pode criar políticas de compras (para
bibliotecas, escolas, etc.) direcionadas para determinado tipo de literatura, e
com isto estimular a publicação de livros com esse perfil.
O que os autores jovens não entendem é que nenhuma editora é
obrigada a publicá-los. Eles acham que
é uma obrigação constitucional, e não é.
É um acordo entre dois parceiros (editor e autor) para colocar um
produto no mercado; se o produto é também uma obra de arte, o futuro dirá.
(Todo autor acha que o livro que escreveu é uma obra de arte.) Não existe teste
químico para decidir se um texto é obra de arte ou não. É a sociedade quem responde, e dá respostas
diferentes com o passar do tempo. Se um
editor não confia no livro a ponto de apostar nele seu dinheirinho, a solução é
o autor ir bater noutra porta.