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& no futuro só
existirão ciganos, os esperançosos chegando aos territórios que os desiludidos
desocuparam na véspera & um livro-cebola com páginas esféricas, lidas
e descartadas de fora para dentro
& isso aí só no dia em que
fumaça descer pela chaminé & há uma conspiração em curso para que os
honestos se afastem cada vez mais da política
& aves de pano negro
pousadas no muro, mastigando alguma coisa
& todo escritor é um rio
menor do que os afluentes que recebe
& um tique nervoso é um bug
biológico que desencadeia um loop mental
& um time de futebol faz
anagramas de si mesmo durante 90 minutos
& uma moeda com uma face
falsa e a outra verdadeira & uma noite de chuva como esta e ainda mais
uma campainha distante que não para de tocar
& podia pelo menos ter uma
janela no elevador, pra gente ver a parede passando & e ele com aquela
cara de quem esqueceu de fazer backup
& edifícios cravados na
paisagem como pendraives ambiciosos e invasivos & o barulho da cidade
é como o de um mar indo e voltando
& se eu fosse esperar que
alguém pedisse minha opinião, tinha morrido mudo & a limusine é útero
high-tech, Náutilus do asfalto, bat-caverna ambulante, alcova para voyeurs &
conheço um cara que é dono de vinte cinemas e há dez anos não consegue
ver um filme & o mundo deve ser a lixeira onde Deus joga o
que não deu certo & um livro onde cada página fosse desenhada
como um quadro & o doido e o headphone invisível que só ele
escuta & igarapés holográficos por onde os turistas poderão caminhar sobre
as águas sem molhar os respectivos
& tem gente que basta botar
uma peruca e nem lembra mais como se chama
& cada objeto no mundo tem
um Deus e um Diabo brigando pelo seu destino
& as melhores visões se
projetam na membrana impalpável entre o sono e a insônia &
nenhuma cidade é mais interessante do que seus subterrâneos &
tem bilionário que nem lembra o que é dinheiro, vive pela adrenalina das
disputas & por mais rápida que seja uma bala ela está
sujeita às influências do vento & roqueiros fazendo a saudação nazista e sendo
mal interpretados & mosquitos que transmitem amnésia, ateísmo,
obesidade & tem gente que se pudesse acabava o mundo e
tirava uma foto ao lado dele & devia existir uma engenhoca que produzisse
água do mesmo jeito que um isqueiro produz fogo & tem gente que me
chama a atenção mas ela não vai de jeito nenhum & só sabe o gosto de
vestir uma roupa nova quem sabe o prazer de usar uma roupa velha &
poucos honestos pregam a honestidade com tanta veemência quanto certos
trambiqueiros &