A revista eletrônica Edge formula todos os anos uma pergunta sobre temas cruciais ligados à ciência, e a distribui a centenas de cientistas. A pergunta para 2015 foi: “O que você pensa a respeito de máquinas capazes de pensar?”. Houve 183 respostas (está tudo no saite, aqui: http://tinyurl.com/m4ww7t8) e comentarei algumas.
Gostei da resposta de Haim Harari (físico, ex-presidente do
Weizmann Institute of Science, em Israel).
Ele vai direto ao ponto, dizendo que as pessoas em geral têm medo de
máquinas capazes de pensar como um ser humano, mas o que ele próprio teme são
os seres humanos que pensam igualzinho a uma máquina. O hábito de raciocinar acompanhando o raciocínio das máquinas
está embotando o que o ser humano tem de mais precioso: “Exercer o bom senso na
tomada de decisões, e ser capaz de levantar questões significativas são, até
agora, prerrogativas dos humanos. Misturar a intuição, a emoção, a empatia, a
experiência e o background cultural; usar tudo isto para formular
perguntas relevantes, e tirar conclusões através da combinação de fatos e
princípios não-relacionados. Isso é a marca registrada do pensamento humano, algo
que as máquinas ainda não compartilham”.
Harari critica o pensamento bitolado, preso a regras,
incapaz de dar um salto para fora da “letra da lei” ou dos manuais de
procedimentos. Diz ele: “Todo novo
edifício deve dar acesso a pessoas com necessidades especiais; prédios antigos
podem ir funcionando sem esse acesso, até serem remodelados. Mas será que faz sentido vetar a remodelação
de um velho banheiro, para que ele ofereça este acesso, apenas porque não pode
ser instalado um novo elevador? Ou
exigir a revelação pública de todos os segredos da CIA ou do FBI para que um
júri possa condenar um terrorista que evidentemente matou centenas de
pessoas? Ou exigir consentimento dos
pais antes de dar uma aspirina a um adolescente, na escola? E quando os textos escolares são convertidos
de milhas para quilômetros, a frase ‘Do alto da montanha dá para se ver num
raio de aproximadamente cem milhas’ deve ser traduzida para ‘Do alto da
montanha dá para se ver num raio de aproximadamente 160.943 quilômetros?’”