sexta-feira, 30 de novembro de 2012

3044) Fuleco é de lascar (30.11.2012)




Estou puxando pela memória para tentar lembrar alguns exemplos de casos assim, em que pessoas, por falta de familiaridade com um idioma que estão estudando ou utilizando, produzem verdadeiras aberrações linguísticas ou termos sem sentido. Foi o caso da escolha do nome para o mascote da Copa do Mundo. (Pensando bem, o próprio conceito de mascote da Copa do Mundo já é uma idiotice.) (Pensando melhor ainda, Copa do Mundo também.)

A Fifa encarregou pessoas de sugerir nomes pro boneco a partir de palavras-símbolo referentes ao Brasil, à ecologia, etc.  “Zuzeco”, por exemplo, foi uma solução proposta por eles – uma mistura de “azul” (o nosso céu) e “ecologia”. Chinfrim, mas vamos em frente. Fiquei muito perplexo com outra escolha: “amijubi”. O mascote se chamaria Amijubi. Por que? Amizade e júbilo.  Pense numa palavra-naftalina do nosso idioma, é esta última. Ao longo de toda minha vida só a vi por escrito, e mesmo assim na imprensa de jornal pré-1960 e em discursos de inauguração de alguma coisa. Nunca vi um único brasileiro usar a palavra “júbilo” numa conversa.

Vai ver que eles pensaram o mesmo, e a terceira solução – e que parece já estar definitivamente aceita – foi “Fuleco”. Por que? Futebol e ecologia. Nada contra os dois, mas fuleco é de lascar.  Lembra fuleiro, fulo, furreca. Uma mistura de Fu-Manchu com Cacareco. Lembrei-me daquele livro “English as she is spoke”, um guia de idiomas, aparentemente autêntico, onde o autor pretende ensinar inglês ao leitor mas vê-se que não tem a menor idéia do que está fazendo. O título, que queria ter dito “O inglês como ele é falado”, é uma amostra das distorções e desinformações do autor.

Não custava nada chamarem o mascote de Tatu-Bola. Primeiro porque ele é um tatu-bola mesmo, e por isto foi escolhido. Segundo porque é um nome oferecido de bandeja pelo povo (incluindo-se aí os zoólogos e os dicionaristas) do país que sedia a Copa. Custava nada ser tatu-bola?  Este episódio, por mais que seja inspirador de galhofas, pode dar também uma dose de melancolia. O mundo globalizado está virando um grande mal entendido entre culturas, entre idiomas, entre hábitos e crenças. Daqui a pouco não se acha no planeta um par de pessoas que interpretem os mesmos fatos da mesma maneira.

Eu nada tenho contra palavras inventadas, mas eu gosto de snark e não gosto de Zuzeco, e gosto de supercalifragilisticspiralidocious e não gosto de Amijubi.  Gosto de nonada, parangolé, zazueira, crisbeles, riverão, alfômega, panamérica, solaris, ciberespaço, grokkar, robot, grifinória, ludopédio, convescote, monstruário, baurets, in-a-gadda-da-vida... mas não gosto de Fuleco.