Parece
que foi Hemingway, ou Graciliano Ramos, ou Carlos Drummond, ou John Ruskin, ou
Armando Nogueira, quem disse: “Escrever é cortar palavras”.
Um conselho útil, uma boa frase de efeito. Mas tem um porém. Cortar o que? Para cortar, é preciso ter escrito alguma coisa. E se alguma coisa foi escrita e precisa ser cortada, é porque foi escrita em excesso. De modo que o conselho tem duas partes, com a primeira subentendida; o conselho completo seria: “Escrever muito, e depois sair cortando”.
O que aliás tem sintonia com outra frase famosa, esta sim, de Hemingway: “Escreva bêbado. Revise sóbrio”. Conselho que pode incomodar os abstêmios, de modo que podemos substituí-lo por: “Escreva com entusiasmo, corte sem piedade”.
Um conselho útil, uma boa frase de efeito. Mas tem um porém. Cortar o que? Para cortar, é preciso ter escrito alguma coisa. E se alguma coisa foi escrita e precisa ser cortada, é porque foi escrita em excesso. De modo que o conselho tem duas partes, com a primeira subentendida; o conselho completo seria: “Escrever muito, e depois sair cortando”.
O que aliás tem sintonia com outra frase famosa, esta sim, de Hemingway: “Escreva bêbado. Revise sóbrio”. Conselho que pode incomodar os abstêmios, de modo que podemos substituí-lo por: “Escreva com entusiasmo, corte sem piedade”.
Não
vale para todo mundo, é claro. Acho que James Joyce, Balzac, cortavam muito
pouco. Cada vez que recebiam as provas da gráfica, enchiam as margens com novas
frases, novos parágrafos inteiros. E os tipógrafos ficavam malucos. (Refazer
essas coisas, naquele tempo, dava um trabalho insano.)
Guimarães Rosa cortava muito, mas o texto não se reduzia, porque tudo que ele cortava substituía por outra coisa. (As antigas edições de seus livros, pela José Olympio, reproduziam páginas inteiras de provas revisadas por ele em letra desenhadinha, meticulosa, legível demais, como se pedisse desculpas aos tipógrafos.)
Guimarães Rosa cortava muito, mas o texto não se reduzia, porque tudo que ele cortava substituía por outra coisa. (As antigas edições de seus livros, pela José Olympio, reproduziam páginas inteiras de provas revisadas por ele em letra desenhadinha, meticulosa, legível demais, como se pedisse desculpas aos tipógrafos.)
Escreva
entusiasmado (se for esse o seu temperamento como escritor), escreva com
exuberância, com exaltação, jogando no papel tudo que lhe passar pela cabeça.
Descreva com detalhes, prolongue os diálogos, tente cobrir com palavras tudo
que sua imaginação lhe sugerir. Naquele momento de escrever, abre-se uma janela
em nossa mente, que depois se fecha. O que você está acessando naqueles minutos
já não acessará na manhã seguinte; então, despeje tudo na página, antes que o
portal se feche.
Em geral, quando escrevemos, repetimos muito. Em diálogos principalmente. Dizemos a mesma coisa de duas ou três maneiras diferentes. Estamos ainda no processo de descoberta, por aproximações sucessivas. No dia seguinte, começa o processo seguinte, o de cristalização. O que estava ali só para ajudar, só para servir de veículo, pode desaparecer.
Como um copo de água com sal, onde a água se evapora e deixa o sal no fundo. O sal é o texto que vai para o livro. Mas se esse texto for realmente bom, será possível sentir nele a presença da água que o trouxe até ali.
Corte sem piedade. Cada palavra que você corta aumenta o valor das que ficam.