Groucho Marx foi um dos mais inteligentes e imprevisíveis cômicos do cinema norte-americano. Também do rádio, do teatro, e da TV, mas tudo que vi dele foi no cinema, em filmes absurdistas como Uma noite na Ópera, Uma noite em Casablanca, Animal Crackers, Duck Soup e vários outros. Os Irmãos Marx eram um grupo anárquico: Chico, o espertalhão; Harpo, o mudinho que transformava em qualquer coisa qualquer objeto que houvesse no cenário; e Groucho, o trocadilhista, insultador de senhoras e figurões, aprontador de pequenos esquetes improvisados. Um filme dos irmãos Marx é uma comédia romântica, ou aventura policial, ou outro gênero, desde que os irmãos (Groucho principalmente) não estejam na cena. No momento em que eles aparecem, subvertem o gênero. Fica o filme querendo ir numa direção e os Marx empurrando-o na direção da bagunça surrealista e irreverente.
Groucho tem um dito famoso: “Jamais entrarei para um
clube capaz de me aceitar como sócio”. É
uma das suas frases paradoxais, muito citada; diz-se que ele a enviou num
telegrama para um clube de Beverly Hills que o convidou para se associar. Como se dá com os grandes paradoxos de Oscar
Wilde ou de G. K. Chesterton, é uma frase que faz sentido imediato quando a
lemos, apesar da aparente contradição.
Dei uma pesquisada a respeito dela, para saber a data,
por causa de um conto de Monteiro Lobato que reli por acaso. O conto é “Um
homem de consciência”, em Cidades Mortas (1909), a história de João Teodoro,
um homem pacato e meio decepcionado com a decadência de sua cidadezinha,
Itaoca. Certo dia ele é nomeado delegado, bota os baús em cima de um burro e
vai embora, dizendo: “Terra em que João Teodoro chega a delegado eu não
moro”. É a mesma lógica grouchiana,
sendo que em 1919 o Marx bigodudo (então com 29 anos) mal estava iniciando sua
carreira artística.