Hugh MacLeod é um cartunista e
artista gráfico autor de um manifesto intitulado “How to be creative”, que,
segundo ele informa em seu saite, já teve 4,5 milhões de downloads. Fui
responsável por um desses, porque sou fascinado por mandamentos, conselhos, dicas,
regrinhas sobre como escrever, como criar, etc. Faço isso porque tenho um lado
supersticioso me dizendo que só não consegui realizar tudo que planejo porque
estou errando em algum minúsculo aspecto ao qual nunca dei muita atenção, mas
num belo dia ensolarado lerei um conselho de uma ou duas linhas, postado na
Internet por um desconhecido, e a partir daí, ah, meu amigo, a partir daí minha
vida vai mudar. Daqui pra frente tudo
vai ser diferente!
Mera superstição, como se
vê. Baixei o manifesto de MacLeod e entre
as primeiras dicas leio, logo de cara: “Se o seu grande plano profissional
depende de você ser descoberto de repente por algum figurão, provavelmente não
vai dar certo. Ninguém descobre ninguém assim de repente. As coisas são criadas
devagar, e com sofrimento”. Só faltou o
“viu, Braulio?” no final. Mas isso me
tranquilizou, porque se o que é necessário para ser criativo é trabalhar
“devagar, e com sofrimento”, então estou no caminho certo há 50 anos.
MacLeod partilha comigo uma
desconfiança com relação a um excesso de condições técnicas e materiais. Desconfio muito de trabalhos onde alguém fica
exigindo 150 toalhas brancas, ou diz que só toca no piano tal, que só existe na
Rússia. Ele diz no manifesto: “Quanto
mais talentoso alguém é, menos necessita de penduricalhos. Saber que uma pessoa
escreveu uma obra-prima no verso de um cardápio de lanchonete não me
surpreenderia. Saber que uma pessoa escreveu uma obra-prima com uma caneta
Cartier de prata, sobre uma mesa comprada num antiquário, num estúdio do SoHo,
me surpreenderia bastante”. Eu diria: para escrever um livro bom você não
precisa do mais revolucionário processador de texto. Precisa apenas (e cito
aqui outro item de MacLeod) de “tempo, esforço e energia”.
E por fim uma frase curiosa, que pode ser lida de muitas maneiras: “A coisa mais importante que uma pessoa criativa pode aprender, em sua vida profissional, é onde traçar a linha que separa o que você aceita fazer do que você não aceita”. Certa vez, a atriz Marília Pera recusou um projeto, e uma amiga jovem disse: “Você pode dizer não, porque você é Marília Pera”. E ela disse: “Não, eu só sou Marilia Pera porque aprendi a dizer não”. Não sei se o episódio se passou de fato com Marilia (histórias assim acabam sendo atribuídas a Deus e o mundo), mas dá uma boa dica sobre como explicar ao mundo quem é você.