Nos meus passeios diários pelas homepages de jornais do mundo inteiro (bem, de três ou quatro países apenas, para ser sincero) tenho visto uma cachoeira de artigos irônicos e cheios de graçolas a respeito do anunciado casamento do Príncipe Charles com a Sra. Camilla Parker-Bowles. Todo mundo sabe que o casal namora e se relaciona há décadas. Ao que parece, antes mesmo do casamento dele com a falecida Princesa Diana os dois já trocavam abraços. E durante o casamento Charles/Diana, a desafortunada Camilla virou uma espécie de saco-de-pancadas da imprensa inteira. Por que? Porque é uma mau-caráter, uma calhorda, porque não escova os dentes, porque passa cheque sem fundo? Não: porque é feia.
Coitada de Dona Camilla, que aliás nem sequer é mais feia do que a maioria das inglesas, benza-as Deus. A finada Lady Di ganhou a simpatia de Deus e o mundo porque tinha uma carinha fotogênica e uma silhueta contemplável, mas era “uma cabecinha-de-vento”, como a qualificou Paulo Francis num momento de magnanimidade. Uma inglesinha como tantas outras, que leu muito os Irmãos Grimm na infância e sonhou em ser princesa e rainha, como tantas brasileirinhas sonham em ser modelos e atrizes. Seu palminho de rosto, comparado ao de Camilla, despertava analogias imediatas com Cinderela e As Irmãs Feias (a feiura de Camilla, claro, valia por duas).
Quem sou eu para dar pitaco na vida alheia. Mas acho que o Príncipe Charles é um sujeito sensaborão, cheio de nós-pelas-costas, e tudo que quer é um matrimônio britânico à velha moda. Qual é o problema, então? O que me espanta é a impressionante unanimidade (no Brasil e fora dele) da antipatia com a Dona Camilla, só porque é feia. Todas as pessoas a quem perguntei não sabem nada dela – sabem que é de família tradicional, que namora com o príncipe, que o Príncipe declarou uma vez que gostaria de ser o O.B. dela, e que ela tem cara-de-cavalo.
Lembro-me de uma campanha presidencial americana, anos atrás (acho que no tempo de Nixon), quando o candidato democrata estava sendo escolhido. Li um artigo numa revista analisando os possíveis candidatos e a certa altura o articulista dizia: “O melhor candidato Democrata seria Fulano de Tal. É sério, honesto, inteligente, competentíssimo, e teria tudo para ser um dos melhores presidentes que o país já teve. Mas nunca será eleito, porque não tem carisma, fotografa mal, discursa mal. Excelente administrador– mas péssimo candidato”.
O que me lembra a piada do bêbado que ao chegar em casa tenta abrir a porta, a chave cai, e ele vai procurá-la junto ao poste-de-luz da esquina. O guarda diz: “Por que não procura no lugar onde a chave caiu?” E ele: “Lá está muito escuro, não vou achar nunca. Melhor procurar aqui, que pelo menos tem luz”. É o problema dos americanos, coitados, sempre procurando um presidente na TV. Deixem o Príncipe Charles procurar a chave dele no escuro. Um sujeito não pode ser bobão quando sabe o que quer.