terça-feira, 17 de junho de 2014

3527) Tá tendo Copa (17.6.2014)




Antes de tudo: sou a favor das manifestações, desde o começo. Quero que continuem, e que desmascarem as políticas dos governos (federal, estaduais e municipais, bem como do legislativo e do judiciário), políticas que prejudicam a população e favorecem apenas os grandes grupos econômicos, construtoras, bancos e financeiras, etc.  Sou a favor de qualquer manifestação que denuncie as tramóias da Fifa. É um grupo de trambiqueiros internacionais em grande escala, que veem nosso povo com desprezo e nosso país como um antro de otários fáceis de corromper porque são desonestos de nascença.

Tirando isto, toda Copa do Mundo é uma festa do futebol para otimistas como eu, que acham que os resultados não são combinados com antecedência ou manipulados de última hora, numa reunião a portas fechadas entre representantes da Fifa e das duas seleções que jogarão logo mais. É preciso despregar do futebol (o que é dificílimo) essa gosma de dinheiro sujo e de ambição corporativa. O jogo em si é uma beleza, pelo choque entre estilos diferentes de jogar, formas diferentes de talento (o talento, por definição, é individual, multiforme, de possibilidades inesgotáveis).

A pior coisa que pode acontecer nesta Copa é qualquer violência contra os visitantes. Acho que a regra da hospitalidade é sagrada, e qualquer violência (do anfitrião contra o hóspede, ou do hóspede contra o anfitrião) é vergonhosa. (Assistam Game of Thrones, onde este tema é recorrente.)  Vamos deixar que todos torçam em paz pelos seus times, chorem suas derrotas, comemorem suas vitórias. Inclusive quando, e se, nos derrotarem. Sei que é pedir demais a meros torcedores. Continuarei pedindo.

Gosto mais de futebol bem jogado do que da Seleção Brasileira. Em 1974 e 1978 torci pela Holanda, que na época era o melhor time do mundo.  Em parte, também, torci contra a Seleção para ser contra o governo (era a época da ditadura), mas hoje acho que isso é bobagem. A Seleção representa mais o povo do que o Governo, mesmo que este pegue carona nos seus triunfos.  Os governos passam e a Seleção fica.

Não faço questão de que o Brasil seja campeão. Preferiria alguma seleção que joga bem e nunca foi. (Menos os EUA, que são a Roma Imperial de hoje.) Quero que a Copa seja alegre, festiva, disputada, com grandes jogos e grandes jogadas, que revele novos craques, que consagre os antigos, que ajude alguns a encerrar suas carreiras de cabeça erguida. No esporte, só um é campeão; mas há incontáveis motivos para orgulho e celebração, mesmo quando se é derrotado. Quero que a festa na rua seja bonita, e que após o final todo mundo vá embora pensando: “Obrigado, Brasil”.