Tem coisas que só a vida ensina, e a primeira delas é a vida
propriamente dita. Não temos manual de instruções para a maioria das coisas que
nos acontecem. Algo que a gente rala muito para aprender, e nunca aprende, é
dar entrevistas para a TV. Políticos, artistas, etc acabam aprendendo pela
prática intensa, fazem isso quase todo dia. Mas o que dizer do cidadão comum a
quem isso só ocorre, sei lá, uma vez por ano? Quando chega a próxima vez ele
nem lembra mais o que fez na anterior.
Posso compartilhar algumas pequenas coisas que aprendi à
força de fazer bobagem. Tempos atrás, quando alguém me entrevistava para um
programa qualquer, eu começava expondo minhas premissas, em função da pergunta
que me fôra feita, para chegar, triunfalmente, à conclusão. Em geral, isto me
requeria 3 ou 4 minutos de resposta, o que em termos de televisão é uma
eternidade. A consequência é que ainda durante as premissas eu era interrompido
pelo repórter, que agradecia minha participação e chamava a central. Ou então
fazia outra pergunta – e tudo recomeçava.
A lição que aprendi foi: quando a TV fizer uma pergunta,
responda direto com a conclusão. De maneira direta, concisa, e por mais que a
conclusão pareça gratuita sem ter sido preparada pelas premissas. Quanto mais
inesperada ou surpreendente ela for, melhor, porque o repórter vai ficar
intrigado com uma resposta tão curta e direta, e vai perguntar: “Por quê”, ou
“Como assim?” – e aí vai lhe dar todo o tempo necessário para você apresentar
suas premissas.
Do mesmo jeito, se pedirem para você tocar uma música,
ataque direto no primeiro verso. Não invente de tocar a introdução instrumental,
se não corre o risco de ver os créditos do programa subirem na tela antes mesmo
de você poder cantar “Ouviram do Ipiranga as margens plááácidas...” ou seja lá
qual for o verso inicial da sua música.
A TV só tem tempo para pílulas, comprimidos, conclusões bem
sintéticas com começo e fim (de preferência sem “meio”). Responder perguntas da
TV é uma arte que eu não domino até hoje, e olha que já dei centenas de
entrevistas, desde as de 30 segundos até as de um programa inteiro. O
raciocínio mais curto de que sou capaz é do tamanho de um destes artigos, o que
me inviabiliza para a filosofia eletrônica. Na TV, a gente tem que ir direto à
parte principal. Nada de ordem cronológica dos fatos, por exemplo. Craques do
futebol brasileiro? Vá direto a Neymar. Se der tempo, lembre Pelé e
Garrincha. Se pedirem mais, aí sim,
fique livre para ir de Leônidas e Zizinho até Zico e Ronaldo.