Dizem que por onde se olhar existem dois Brasis: o pobre e o rico, o branco e o preto, o tropical e o serrano, e por aí vai. Prestando atenção em todo esse bulício das eleições recentes, pensei em dividir em dois os eleitores brasileiros. De um lado os eleitores conscientes, de outro os eleitores meramente arrastados por algum tipo de propaganda, coação ou vaga promessa de alguma coisa.
Vejamos o grupo dos eleitores conscientes, no qual me
incluo, por hipótese de trabalho. Por
que eu sou mais consciente? Bem, eu sou
um escritor, um intelectual, tive direito a alguns anos de universidade, leio
sobre tudo e escrevo sobre isso e mais alguma coisa. Então devo saber distinguir entre dois projetos de candidatura à
– digamos, pra facilitar – Presidência da República. O “pobrema” é que se eu
fosse um intelectual sério teria de ler e comparar os projetos em campanha, mas
a verdade é que eu nunca li um projeto de candidato. No máximo, li em jornais a opinião de quem leu (ou dizia
que). Sou eleitor consciente? Acho que não.
Ler projeto de governo? É como ouvir um candidato em cima de
um caminhão, no engarrafamento da carreata, com um megafone, lendo em voz alta
a ata da reunião do condomínio. Não,
preferimos votar num rosto, preferimos votar em alguém onde se ajustam nossos
personagens, preferimos votar numa fantasia de desafio ou de exemplo.
O que eu sei da política, da economia brasileira? Sei o que sai na imprensa, confiabilíssima
que é. E o que vaza para a Internet (ou
cresce direto de lá, cópia sem original): sempre experiências de segunda mão. O
Brasil é grande: todo dia há eventos públicos, entrevistas, pronunciamentos,
transações, compras e vendas, leis promulgadas, tudo público e legal, mas que o
“Brasil” não sabe, nem vai saber nunca, porque todo mundo está como eu, ocupado
em cuidar da própria vida. Acompanhar a
economia nacional é um negócio muito chato. Ninguém tem saco. (E o que é
secreto? Não sabemos nada do que acontece a portas fechadas. Nenhum político,
nenhum jornalista pode afirmar em público a maioria das coisas que sabe. Seria
um suicídio.)