E lá vai entrar em campo mais uma vez a coitada da Seleção Brasileira, carregando o peso das nossas expectativas, do nosso “complexo de viralatas”, do nosso valor de “gente bronzeada”, do nosso jeitinho, da nossa “grandiosa missão histórica”, do “nosso papel no concerto das nações”... Ganhe ou perca, esse grupo de rapazes vai para o sacrifício. Se perderem, virarão os bodes expiatórios de todas as nossas frustrações. Se ganharem, virarão (como dizia Paulo Emílio Salles Gomes) “bodes exultórios”, indivíduos meio que pegados no laço e transformados em heróis desmedidos, símbolos da Pátria, modelos de cidadania e de bravura guerreira.
Nesta Copa está dando tudo ao contrário. Otimistas com a
vitória na Copa das Confederações, ano passado, dissemos: “O time tá pronto, é
esse aí, e vai entrar arrasando.” Nosso
medo era com relação à Copa em si – os estádios, os transportes, a rede
hoteleira, os assaltos, as manifestações... Na hora H, virou: bem ou mal, a
Copa está acontecendo, os problemas são os normais de qualquer megaevento em
qualquer país, e há um certo consenso da imprensa de que é uma Copa muito boa
do ponto de vista esportivo e logístico. O problema agora é o nosso time.
No jogo contra o Chile, as crises nervosas, o chororô, as
chances perdidas, o evidente nervosismo dos jogadores nos deixaram
perplexos. Mesmo jovens, são atletas experientes
que jogam em grandes clubes, ganham fortunas, estão acostumados a grandes
decisões. Como sempre, no entanto, botamos nas costas deles um peso
desproporcional ao de uma competição esportiva, e só continuamos na Copa graças
a duas bolas chilenas na trave. Nem a torcida escapou: quem tem dinheiro para
pagar os ingressos caríssimos da Fifa é (ao que parece) gente que nunca pisou
numa arquibancada. Não sabem torcer, não sabem incentivar o time. Vão esperando
a goleada e contando com a festa. Quando o time adversário faz um gol, eles fazem
beicinho e pedem o dinheiro de volta.