Basílio Pimentel, 44 anos, bêbado até as orelhas, ao entrar num botequim e bradar palavrões insultuosos, dizendo que ali não tinha macho merecedor de levar uma surra dele, e vendo levantar-se de um canto obscuro um marombado de porte schwarzeneggeriano revoltado com a provocação e prometendo primeiro amaciar o bife de porrada pra depois comê-lo: “Vige Maria, o pacote veio maior que a encomenda!”.
Waluza Starr, 47 anos, divorciada duas vezes e separada
quatro, dançarina e atriz, depois de noites insones pensando no teste de elenco
da novela e decorando um texto minimalista demais pro seu gosto, e depois de fazer
o teste, pegar suas coisas, ao se despedir do assistente de direção que
coordenou tudo: “Olha, hoje não é meu dia, meu bem, me deixa fora dessa, melhor
deixar quieto.”
Vavá de Joaninha, 27 anos, operador de telemarketing, cearense,
chegado ao Rio de Janeiro algumas meras semanas atrás, entrando tarde da noite na
bodega de Carlindo, que já estava com uma das portas arriada, encostando no
balcão, depois de pedir “uma Antártica estupidamente gelada” e ouvir de
Carlindo que só tem Brahma morna: “Então traz duas!”.
João Pedro Amarante, 48 anos, advogado, leitor do Diário
Oficial, evangélico recente, numa reunião de família a portas fechadas, para a
qual foi convocado em caráter de urgência urgentíssima, ao ser botado no
canto-da-parede pela esposa gélida e pelos três furibundos irmãos dela, todos
exibindo provas fotográficas e documentais de sua ida a um motel com uma
piriguete: “Sim, traí, mas não gozei.”
José Carlos de Souza, 32 anos, magrelo, barbeiro, envergando
o uniforme branco da categoria, fumando um cigarro em frente ao Salão
Excelsior, à espera do primeiro cliente do dia, depois de assobiar para uma
morenona reboculosa que passava e vê-la dar meia-volta e partir furiosa em sua
direção: “Oxente, dona, eu tava chamando um táxi.”
Tarcísio Alves Gama, 31 anos, bêbado aos tombos, apreendido
na madruga por uma viatura da PM, depois de declarar em alto e bom som ser
sobrinho do Major Peçanha da Aeronáutica, que mora ali na esquina, ao que os
PMs tocam à campainha e o major emerge de pijama para dizer que nunca o viu
mais gordo: “Acho que me atrapalhei, meu tio é o Major Montenegro, que mora em
Macaé”.