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de duas mil músicas compostas, mais de mil gravadas: Paulo César Pinheiro é um
dos grandes compositores da MPB. Tido, em geral, apenas como letrista, por ter
sido assim que começou, depois passou a compor melodias próprias, gravou discos
cantando, publicou livros de poemas e um romance. É um desses compositores cuja
obra sustentaria a programação inteira de uma rádio, e de quem seria possível
criar uma lista de dezenas de sucessos para surpreender o público dizendo:
“todas estas músicas são do mesmo autor”.
Histórias
das Minhas Canções (Editora LeYa, 2010) reconstitui a história por trás de
algumas dessas canções. Às vezes é o processo criativo que Paulo César
desvenda, o modo como uma idéia inicial vai se transformando em palavras e
estas vão puxando novas idéias para dentro. Outras vezes é a história em torno
da canção: o que motivou os parceiros, as circunstâncias da composição, etc. Às
vezes uma música fica vários anos sem ser terminada, esperando um verso, um
refrão. Outras vezes é feita em poucos minutos; muitas vezes (no caso de PCP)
para responder um desafio tipo: “duvido você botar letra nessa melodia agora
mesmo”.
Encontrei
nesse livro a história de alguns grandes clássicos da minha memória afetiva
pessoal (“Canto das Três Raças”, “Pesadelo”, “Lapinha”, “Tô voltando”, “Vou
deitar e rolar”...). Algumas canções marcantes que ajudaram a consagrar o poeta
(“Espelho”, “Além do espelho”, “Um ser de luz”, “Cordilheiras”...). As
parcerias com Lenine (“Candeeiro encantado”, “Leão do Norte”). As canções de
sensibilidade cósmica (“As Forças da Natureza”) e de futurismo apocalíptico (“O
dia em que o morro descer e não for carnaval”). Um repertório gigantesco que
começa com o samba, mas se amplia em todas as direções a partir do samba.