Quando eu era menino, ele era chamado por grande parte da imprensa “o rival de Alfred Hitchcock”. Seus filmes, mais até do que os de Hitchcock, eram verdadeiros eventos. Para mim ele e Hitchcock (eu era fã de ambos) eram cineastas parelhos, nivelados, uma dupla parecida, que fazia uma concorrência saudável – algo como Lucas & Spielberg, ou como Coppola & Scorsese.
Foram precisos alguns anos de estudo para eu perceber a diferença
essencial. Hitchcock foi (talento à parte) um dos mais ricos e poderosos
diretores do seu tempo. William Castle era um diretor de filmes B, que
compensava em esperteza o que lhe faltava em poder político. Em termos
práticos, estava mais próximo de um Roger Corman (o rei do filme de terror
barato) do que do diretor de Rebecca.
Castle,
que se divertia tremendamente inventando essas coisas, trouxe de volta ao
cinema aquelas tecnologias mambembes de quermesse, do tempo de Georges Méliès,
e recriou nos anos 1950 aquele terror inocente dos espectadores que pulavam
para o lado quando o trem dos irmãos Lumière se aproximava da câmera.
Seu centenário está sendo comemorado neste mês de
abril, sem muito alarde, porque só os fãs de filmes de terror se lembram
dele. Seus filmes só passam nos corujões
a cabo, enquanto que Os Pássaros (1963), de Hitchcock, reestreou com cópia
nova e publicidade no mês passado.
Em vida, a publicidade era o instrumento
preferido de Castle. Quando ambulâncias foram estacionadas na frente dos
cinemas que exibiam O Exorcista em 1973, isso virou notícia. Castle havia
feito o mesmo com Macabro (1958), que inclusive dava a cada espectador uma
apólice de seguro de vida para o caso de alguém morrer de medo durante a
projeção.
Castle assustava os espectadores ligando motores que
faziam vibrar a poltrona durante a projeção, fazia um esqueleto pendurado no ar
passar sobre as cabeças da platéia, distribuía óculos especiais para ver os
fantasmas vistos pelos personagens do filme, interrompia a projeção antes da
cena culminante para que os espectadores medrosos fossem embora (com devolução
do dinheiro)...
Não, não vi nada disso no Cine Capitólio – funcionava apenas em
salas escolhidas nos EUA, mas o mundo inteiro comentava.
É dele um dos filmes que mais me aterrorizaram na
infância, Força Diabólica (The Tingler, 1959), com Vincent Price, descrevendo
uma espécie de centopéia que se desenvolve na coluna vertebral das pessoas
amedrontadas (causando o famoso “frio na espinha”) e que só pode ser morta se a
pessoa gritar a plenos pulmões. Quando Vincent Price, no final, se vira para a
câmera e manda gritar, o que vocês acham que o cinema inteiro fazia?