Faço tantas críticas ao capitalismo nesta coluna que em
breve vou despertar a desconfiança do FBI, o qual rapidamente avisará a nossa
Polícia Federal. Meia dúzia de agentes vestidos de Arquivo X irão se debruçar
sobre as páginas do meu blog Mundo Fantasmo e, depois de uma noite insone cheia
de café e cigarros, concluirão: “Ele simpatiza com o comunismo”. Certo e
errado. É certo que simpatizo com esse nobre movimento. Mas é certo também que
simpatizo com o Anarquismo, o Surrealismo, a Música Barroca, a Mecânica
Quântica, a Poesia Concreta, a Pintura Abstrata, o Rock Progressivo e uma
porção de outros movimentos que para mim são até mais importantes do que as
idéias de Marx, Engels, Brecht, Maiakóvski e Chico B.
Reli o parágrafo anterior e percebo que já estou lá na
esquina. Melhor voltar. Minhas críticas ao capitalismo não pretendem
substituí-lo por outro sistema econômico, porque na minha idade acho que não me
adaptaria. Sou capitalista, e, como certos peixes de água salgada, não
sobreviveria em água doce. Mas até mesmo por compartilhar esse destino já sei
que o capitalismo é um Titanic destinado ao plâncton submarino, e não ao porto
de Nova York.
Irei direto ao ponto: o Hotel Glória, do Rio de Janeiro.
É a mais recente vítima do bipolarismo capitalista num país indefeso como o
nosso. Aqui, qualquer sujeito capaz de pedir um vinho de 2 mil dólares num
jantar põe Governos, Ministérios e Congressos aos seus pés. Foi o caso do
trêfego Eike Batista, que construiu um castelo de fumaça, um transatlântico de
papel, uma pirâmide de gelo, e convenceu Deus e o mundo de que era um dos
homens mais ricos do mundo. O mundo acreditou, e avalizou todos os seus
projetos; Deus fez valer a voz da razão, e transformou tudo em cinza e
debêntures.