Está nas livrarias Sobre a Escrita ("On Writing") de Stephen King (Ed. Objetiva, tradução de Michel Teixeira), um livro que vale a pena ler e anotar, se você é um pretendente a escritor. Qualquer livro assim, em tese, pode trazer dicas importantes, e minha teoria pessoal é de que quem sente a necessidade de ler livros de “Conselhos Para Pretendentes a Escritor” está mesmo precisando de conselhos, portanto faz bem em ler. É o meu caso, para não ir muito longe. (Tem muitos que acham que já são escritores, sem ser, acham que ninguém pode ensinar-lhes coisa alguma, e neste caso a única coisa possível é deixar que continuem batendo com a cabeça na parede até que uma das duas se abra.)
King não é teórico, mas é um cara articulado e inteligente.
Seu livro Dança Macabra é uma das melhores análises existentes sobre o terror
e o fantástico nas artes narrativas. Sem vocabulário acadêmico e sem jargão
filosófico (eu até suporto bem esses ingredientes, mas não lhes sinto a falta
quando é o caso) ele é um leitor e espectador atento, sabe teorizar, sabe
extrapolar a partir do que vê, e tem, por assim dizer, o espírito da coisa. Ao
comentar uma obra, vai direto ao ponto; tem faro de enredo, assim como há
atacantes que têm faro de gol. Terror e fantástico são algo que King entende
intuitivamente, e vem provando isso há 40 anos.
Sobre a Escrita é metade manual-de-escritor e metade
memórias, porque foi escrito quase todo após o atropelamento acidental que
deixou King avariadíssimo, numa dolorosa recuperação que ele descreve no terço
final do livro. Seus conselhos, bem, são os de sempre, os que aparecem em todo
manual. Corte advérbios e adjetivos, enxugue o texto, não explique em demasia,
pense sempre qual é a história que está tentando contar... O que diferencia
cada manual é o modo como o autor encaixa esses conselhos no seu texto, os
exemplos e contra-exemplos que fornece, o eventual bom humor, a eventual
erudição.