Um aspecto
interessante da criação artística é a importância das obras que são na verdade
um conjunto, um feixe de obras menores.
Eu sempre digo aos jovens poetas que a obra de arte é o poema, e não o
livro de poemas. Cada poema deve ser trabalhado para si mesmo, sem pensar em
mais nada, a não ser o que está sendo dito e como está sendo dito. Quando vamos
organizar um livro de poemas, no entanto, é preciso harmonizar essas obras,
encontrar um conjunto com variedade, que seja interessante e produza uma impressão
forte no leitor. O livro de poemas é uma obra associativa; a gente não o
escreve, apenas o organiza em função de um material já existente.
O mesmo se dá com o
livro de contos e com o álbum de canções.
A crítica de rock já debateu muito o fato de que quando os Beatles
surgiram o veículo das canções de rock era o “compacto” ou “single”, e que um
LP ou álbum era um mero empacotamento de 12 canções. Os Beatles foram os
primeiros que viram o álbum como um conjunto a ser trabalhado, e criaram o
“álbum conceitual”, onde o perfil e a idéia central eram concebidos em primeiro
lugar, e depois eram escolhidas ou compostas as canções que iriam corresponder
a esse conceito; o exemplo típico é Sgt. Pepper’s.
Na música tivemos
momentos em que se alternaram a canção e o álbum como produtos comerciais e
como obras de arte. Na literatura, no entanto, o conto raramente foi um produto
comercial por si só. Como obra de arte, ele cedo estabeleceu sua importância;
mas não como produto. Nenhum leitor comprava um conto: comprava uma revista de
contos, ou um livro de contos. A transação comercial do conto existia entre, p.
ex., o autor e o editor de uma revista; mas o público só tinha a opção de
comprar um conto comprando uma obra coletiva que o incluía.