O Brasil chorou a morte de Jair Rodrigues, aos 75 anos, com aquela ponta de remorso de toda platéia que empurrou um artista para a prateleira dos fundos e só lembra das suas qualidades quando percebe que o perdeu. Sou um desses, porque, embora não ficasse imune à simpatia pessoal e ao talento do cantor, não ouvia um disco inteiro dele há mais de trinta anos. Fazer o quê? O Brasil é assim. Ninguém pode ser novidade de novo a cada ano, embora alguns tentem heroicamente. O lado positivo é que, na música brasileira, quem foi muito famoso durante alguns anos conseguirá viver de shows eternamente, se souber cuidar da própria agenda. Quando viajo pelo interiorzão do Brasil, nunca deixo de ver faixas ou cartazes no clube local anunciando o show de alguém cujo nome não aparece na TV há décadas. O Brasil é grande, e uma fama residual, bem administrada, dura pelo resto da vida.
O primeiro grande momento de Jair foi a “Disparada” de
Geraldo Vandré e Théo, que ele defendeu num festival com um vigor poucas vezes
visto. Foi aquele caso feliz do intérprete ideal para uma música diferente.
Campeã do festival junto com “A Banda” de Chico Buarque, ela mostrou naquele
momento de intensa renovação que a música regional era uma fonte inesgotável de
vigor, com uma potência épica que estava sendo redescoberta por músicos como
Sérgio Ricardo, Edu Lobo e outros.
Outro grande momento de sua carreira foi seu programa de
TV ao lado de Elis Regina. Mais uma vez, o caso feliz de dois intérpretes de
gosto musical parecido e estilo parecido: exuberante, pra-fora, a plenos
pulmões. Ver os dois juntos na TV, para minha geração, produzia uma
irresistível vontade de correr para o violão mais próximo e tentar compor
algumas músicas. Felizmente obedeci a este impulso.