domingo, 8 de maio de 2011

2551) Agitação no Circo Bigorna (8.5.2011)




Houve um reboliço no sábado de madrugada, quando o Homem Sem Braços tentou entrar na marra dentro do trailer do Prestidigitador. 

Estava bêbado, mais uma vez, e berrava: “Faço coisas muito mais extraordinárias do que você, seu judeu imbecil! Assim é fácil! Quero ver como eu!” 

O outro botou a cara e um revólver na janelinha: “Vai dormir, senão eu te apago aqui e agora”. 

A essa altura a Mulher Serpente já estava agarrada a ele, puxando-o de volta: “Venha, Helmut, não se rebaixe discutindo com essa gente!”. 

Saíram outros artistas, de pijama, de calção, e a ajudaram a levar o bêbado de volta, mas Mimi-a-Cartomante começou a fazer um discurso: 

“Enquanto permanecermos desunidos, seremos explorados. Estou cansada de ver artistas como nós cedendo sua mais-valia para Monsieur Bigorna, e passando por essas humilhações!”. 

Os Três Anões, que nunca perdiam uma chance, começaram a cantar em coro um hinozinho pornográfico sobre Madame Bigorna, acompanhando-se com palmas de mão. 

Diante daquilo a janela do trailer de Vanda Rumbeira se abriu e sua voz de contralto, carregada de cigarro e alcaçuz, se ergueu sobre o vozerio: 

“Queridos, se quiserem fazer comício, façam amanhã, na frente da platéia, não agora, quando não tem ninguém olhando e a gente precisa dormir. E você, amorzinho, vá botar cartas para si mesma pra ver se cai alguma ficha”. 

Mimi começou uma resposta impregnada de vitríolo mas nesse instante Bigorna, vindo por trás do Domador Mascarado, puxou o chicote que este trazia sempre enrolado na cintura, e o estalou com violência, erguendo poeira do chão e fazendo todos saltarem de susto. 

“Cambada de vagabundos, será que não se pode dormir depois de uma noite de trabalho?! Você, Mimi! Trate de arranjar um homem, pra ver se sossega o formigueiro! Tem alguém aqui mal satisfeito? Tem alguém? Se tiver se apresente!” 

Mimi ergueu o queixo: “Está todo mundo nervoso, Monsieur Bigorna! Houve uma altercação, só isso.” 

 Ele retrucou: “Altercação é a cabeça do meu dedão-do-pé, sua hippie desorientada! Volte já pro seu mufumbo, e trate de ficar calada. E vocês, seus marginais, o que era mesmo aquilo que estavam cantando?...” 

“Ninguém estava cantando nada”, disse Megabyte. “Era só uma brincadeirinha”, falou Gigabyte. “Quem compôs foi o Palhaço Randevu”, explicou Terabyte. 

 “Eu devia assar os três num espeto só, mas não faço em honra da memória da mãe de vocês, que Deus a tenha”, disse Bigorna, devolvendo o chicote ao Domador. “Vão dormir! Já!”. 

Os três disseram “Bença, pai!” e rapidamente se escafederam. Todos foram se retirando para seus trailers e por alguns instantes pareceu que ia reinar a tranquilidade, mas Mimi retornou com um megafone: “Mercúrio em trânsito na casa do Sol prenuncia grande mudanças!...” 

Ouviu-se um tiro e o megafone voou pelos ares, Mimi começou a chorar, mas Djeck Tonelada aproximou-se, passou-lhe o braço no ombro e a conduziu entre sussurros para o altar dos sacrifícios.