sábado, 14 de novembro de 2009

1363) Brasil 5x0 Estados Unidos (27.7.2007)



Eu sou tão viciado em computador que quando terminou este jogo, a disputa da medalha de ouro no futebol feminino, esbocei instintivamente o gesto de apertar a tecla do “Print Screen”, para “fotografar” aquela imagem e guardá-la para sempre: as meninas abraçadas em círculo, pulando no meio do campo, e o placar indicando este poema concreto: BRA 5 EUA 0. Só então me lembrei que a tela que eu estava vendo era a da TV, mas não tem problema, a festa era real. Não preciso guardar imagens. Existe um fato, um fato real, duro, obstinado, irremovível, consumado. Braziu-ziu-ziu!

Tem várias facetas, esta façanha. A menos nobre de todas é o prazer de derrotar os norte-americanos. Alguns leitores me criticam o vezo anti-americano desta coluna, mas eu não sou inimigo dos EUA, sou inimigo do seu atual governo, do capitalismo selvagem que o sustenta, e do militarismo que ele patrocina. Critico as idiotices do povo americano como critico as do povo brasileiro, que são em igual número. Tenho simpatia por muitas qualidades que os americanos têm e nós deveríamos ter. Portanto, peço desculpas a alguns leitores especiais (hi Bill, Tom, Michael, Libby... Scott, are you there?). Mas ganhar dos EUA numa competição internacional é uma obrigação moral nossa, para nossa afirmação como povo.

O Maracanã viveu um dia de felicidade sem violência, como há muito tempo não vivia. Fiquei feliz na entrega das medalhas, vendo o estádio inteiro aplaudir a seleção americana. Isso compensou algumas inconveniências e até grosserias que nossa torcida tem praticado neste Pan. As meninas americanas estavam felizes. São um time jovem, um time sub-20, ao que parece, que está sendo preparado para as próximas Olimpíadas, os próximos Mundiais. Louras, rosadas, sardentas (aqui e acolá tem uma neguinha para dar um charme), receberam as medalhas com festa, com alegria, e a câmara captava em close seus sorrisos puros, a felicidade inocente de criança que fica feliz porque ganhou uma prata.

O time brasileiro me comove. Passe uma câmara lateralmente naquela equipe e veja que coisa linda. Umas são balzaqueanas com mais de 30 anos, outras são garotas que estão começando. Deram cinco goleadas, mostraram técnica, tática, habilidade, entusiasmo na hora certa, auto-controle quando foi preciso. Todas reivindicam respeito com o futebol feminino, apoio, verbas, estrutura. Todas comemorando, sorrindo, dançando; todas belas. Tem umas que é ver uma cangaceira; tem outras com cara de baile funk. Todas exibindo orgulhosas as Angolas e os Xingus dos seus genes. Você olha, e só vê povão: índia, passista, manicure, estudante, secretária, cobradora de ônibus, enfermeira. Todas poderiam estar fazendo o mesmo que suas iguais fazem, mas não, estão batendo escanteio, cortando chuveirinho, fazendo gols, salvando gols. As pernas cheias de cicatrizes, e a cabeça cheia de sonhos. Todas beijando a medalha, radiantes, sofridas, cheias de alegria de viver.

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