Em plena crise institucional, com a imprensa pedindo sua cabeça e o embaixador norte-americano garantindo que não haveria intervenção, o Presidente da Ruritânia convoca uma reunião extraordinária com todo o seu Ministério. Ao tomarem assento no Salão Azul, ele percebe a presença de três ou quatro cavalheiros que nunca vira mais gordos. Chama o Ministro da Casa Civil, faz-lhe a pergunta, discretamente, e recebe como resposta: “São os novos Ministros que o senhor vai empossar amanhã”.
Ferdinando teve uma crise súbita de labirintite e saiu do
escritório no meio da tarde. O celular da esposa dava desligado ou fora de
área. Ao entrar em casa, ouviu ruídos, e depois um silêncio esquisito. Foi
direto ao quarto, abriu a porta. A esposa estava nua, pulsos e tornozelos
atados às colunas da cama. Ele teve um sobressalto de susto e ela gritou:
“Primeiro de abril!!!”. Estavam em meados de setembro.
Flávio estava elaborando um documento jurídico qualquer, e
precisou do Dicionário Latino, no qual não pegava desde o tempo da faculdade. Ao
folhear o volume, caíram de dentro dele os dois ingressos para o show de Bob
Dylan no Imperator, em 1991, os mesmos ingressos que anos antes ele procurara
em vão nos bolsos, esbaforido, apavorado, diante dos olhos blasê da possível
namorada que logo em seguida deu um muxoxo, pegou um táxi ali mesmo e sumiu
para sempre.
Aos 17 anos, Fábio Luís ainda era obrigado pelos pais a ir
a todos os lugares onde eles iam. Naquela noite foram ao aniversário de um tio,
cinquentão e divorciado. Durante as intermináveis rodadas de pizza diante da TV
e do “Fantástico”, o tio segredou ao seu ouvido: “Tá a fim de um fuminho? Bora
lá no quintal”. Ele esperou alguns minutos depois do tio sumir e se esgueirou
sem ninguém ver, por entre a escuridão cheia de goiabeiras. Encontrou o tio
junto à parede de um depósito de lenha. Sussurrou: “E aí, cadê o bagulho?”. O
outro o abraçou soluçando: “Não tem bagulho, tem amor, somente amor, para quem
aceite ser amado.”
3 comentários:
Bráulio, meu primo, você é talentoso demais, cara! Escreve que é uma beleza.
Que maravilha de texto. Sou leitor assíduo da coluna.
Maravilha! Parabéns, Bráulio. Mais um texto primoroso, os(as) leitores (as) agradecem. Muita saúde e inspiração para você!
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