quarta-feira, 7 de julho de 2010

2239) O jogo de 180 minutos (12.5.2010)



O futebol tem adotado cada vez mais o sistema classificatório chamado de “mata-mata”. São dois jogos, um no campo do primeiro clube, o outro no campo do segundo. Antes, esse sistema levava em conta apenas a vitória de cada um. Se o time A ganhasse o primeiro jogo por 1x0 e o time B ganhasse o segundo por 5x0, havia uma vitória para cada um, e era preciso um novo critério de desempate, que variava de acordo com o regulamento: prorrogação, disputa em pênaltis, etc. Ou então calculava-se desde antes qual dos dois tinha melhor campanha (maior número de pontos ao longo do campeonato, ou maior número de vitórias, ou maior saldo de gols, ou melhor resultado no confronto direto entre os dois times, etc.), e decidia-se que esse time seria vencedor no caso de resultados iguais (uma vitória para cada um, ou dois empates).

Mas sempre tinha alguém (eu, muitas vezes) que ficava injuriado quando acontecia uma disparidade qualquer. Afinal, uma vitória de 1x0 não pode se comparar a uma derrota por 5x0. Mesmo no caso de uma diferença menor, havia uma impressão de injustiça: então meu time ganha por 3x1, perde o outro jogo por 2x1, e ainda vai ter que decidir nos pênaltis?! Surgiu então o modelo atual, em que não apenas se consideram as vitórias, mas se somam os placares, formando o tal “resultado agregado”. Se o Treze perde o primeiro jogo por 3x2 mas ganha o segundo por 2x0, considera-se como resultado final a soma dos dois: o Treze vence 4x3. É o chamado “jogo de 180 minutos”.

Todo esporte tem essas sutilezas mas no caso do futebol surgem situações contraditórias. Dias atrás, pela Libertadores, o Flamengo perdeu de 2x1 para o Corinthians mas conseguiu se classificar e fez a festa; na mesma noite, pela Copa do Brasil, o Vasco venceu o Vitória por 3x1 e saiu derrotado (porque perdeu o primeiro jogo por 3x0). No caso do Flamengo, a classificação veio por mais uma sutileza recente: o gol marcado fora de casa vale por dois. Como o Fla ganhou no Rio por 1x0 e perdeu em São Paulo por 2x1, o placar dos 180 minutos ficou em 2x2 – mas o Fla fez um gol no campo do adversário, e o Corinthians não.

A questão é que muitas pessoas se queixam disso. Que coisa absurda, comemorar uma derrota! Que coisa irracional, vencer o jogo e sair de campo chorando! Para mim, essas regras recentes (ou seja, de uns 10 ou 15 anos pra cá) significam (digamos) a vitória do resultado a longo prazo sobre o resultado imediato. O que, no mundo de hoje, é uma influência saudável. O mundo está muito imediatista. As pessoas só enxergam o que podem tocar com a ponta do nariz. Ninguém pensa nas consequências, ninguém imagina que vai pagar a conta. Só vale a satisfação imediata. É bom que o esporte nos acostume a pensar na semana que vem, no jogo que vem, como parte do jogo que estamos disputando agora. Na vida só contam os resultados agregados. Cada gol que a gente sofre hoje, fica para sempre. Cada gol que a gente marca, fica também.

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