quarta-feira, 7 de julho de 2010

2241) A lista de Dunga (14.5.2010)



Não creio que tenha algo a acrescentar a tudo que o Brasil já falou sobre a convocação da nossa Seleção para a Copa do Mundo. É o problema do colunista quando esbarra num “assunto obrigatório”. Por ser obrigatório (por atrair a atenção da grande maioria dos leitores), ele não pode perder a chance, sob pena de parecer incompetente ou omisso. E pela mesma razão são ralas, rarefeitas, as suas chances de dizer algo que os outros não já tenham dito.

Malhei aqui a seleção de Dunga durante os três anos em que ela entrou em campo, mas tive a sensatez de elogiá-la quando ganhou a Copa América, a Copa das Confederações e as Eliminatórias. Quando se acertou, a Seleção satisfez. É a cara do treinador: um sistema compacto e aguerrido do meio para trás, perseguindo o adversário, roubando bolas, não dando descanso, e ao dominar a bola escapando com velocidade para dar a punhalada certeira. Uma seleção no modelo italiano, portanto, e que encontrou em Robinho e Luís Fabiano os atacantes mais adaptados para esse estilo.

A lista de Dunga desagradou quem torcia por jogadores como Neymar, Paulo Henrique Ganso, Ronaldinho Gaúcho. Apostei que nenhum seria convocado. Neymar e Ronaldinho são moleques demais para nosso treinador. Ganso é um bom rapaz, comportado, firme e ao que tudo indica é craque mesmo, mas segundo Dunga ele não teve uma boa passagem pela seleção sub-20, e parece que nos pesos e medidas do técnico isso conta mais do que o que o jogador faz no clube. Pode não ser um valor absoluto, mas pelo menos faz sentido.

Dunga e Mauro Silva foram dois dos melhores jogadores da nossa Seleção campeão em 1994. Criaram uma barreira ali na frente da área onde nada passava. Toda vez que o ataque inimigo se aproximava dali eu pensava, “lá vai”, e um dos dois ia, dava o bote, e partir com a bola para o contra-ataque. O defeito daquele time seria mais ou menos o do time de agora: pouca criatividade no transporte da bola de trás até os dois atacantes.

O time de Dunga vai longe na Copa? Para mim, tem mais chance de ir do que o anterior, o de Parreira. Não pelo técnico, mas pelo ambiente criado. Aquela seleção de 2006 era um grupo de pândegos fazendo turismo e amealhando recordes geriátricos. Os times de Dunga podem ter qualquer outro defeito mas são competitivos. A imprensa carioca e paulista (irritada com as não-convocações de Adriano, Neymar, Ganso & companhia) ironizou ferozmente o discurso patriótico do treinador e suas limitações teóricas. Não importa. Direi agora algo que não li ainda: o time brasileiro é basicamente muito bom (quando tivemos uma defesa tão sólida?) e pode enfrentar qualquer um de igual para igual: Espanha, Inglaterra, Portugal, Itália, Argentina, nenhum desses (pelo que tenho visto na TV) tem um time melhor que o nosso. Não há favoritos. São apenas sete jogos, onde podem ocorrer surpresas consagradoras e desastres inexplicáveis. Se não fosse assim não era Copa do Mundo, e não tinha graça nenhuma.

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