George Gamow tinha um livro onde provava por A+B que numa festa de aniversário com 50 pessoas era extremamente provável que um dos convidados também aniversariasse naquele dia. Para ele, era uma alta probabilidade decorrente da mera quantidade de pessoas envolvidas. O sorteio dos grupos para a fase inicial da Copa do Mundo, realizado sexta-feira passada, comprova esta lei. Qualquer que fosse o arranjo determinado pelo acaso do sorteio, coincidências iriam pipocar aqui e ali, esse tipo de coincidências que no futebol fazem os adeptos das "teorias da conspiração" bradarem: "Não tô falando? É tudo combinado!"
Dois técnicos foram vítimas da mesma cruel coincidência. O sueco Eriksson, que treina a Inglaterra, vai enfrentar a Suécia; e o brasileiro Zico, que treina o Japão, vai enfrentar o Brasil. Parece de propósito, não é mesmo? Será que existem outros técnicos entre as 32 equipes cujos países de origem também estejam disputando a Copa? Se forem só estes dois, então, sim, é uma enorme coincidência que ambos tenham de enfrentar justamente o seu país natal.
A Copa costuma colocar em campo países que são ou foram adversários recentes na política ou no campo de batalha. Numa das últimas Copas, EUA e Irã se enfrentaram, e os jogadores deram um belo exemplo de sensatez, posando para as fotos misturados e abraçados uns aos outros. Na Copa de 1986 houve o confronto entre Argentina e Inglaterra, que tinham se enfrentado pouco antes na Guerra das Malvinas. O jogo (vencido pela Argentina) foi excelente, e proporcionou a Maradona um dos gols mais fantásticos de sua carreira. Pois agora quem vai estar frente a frente na próxima Copa são Portugal e Angola, colonizador e colonizado, e não há dúvida de que nesses momentos a História pesa, a política pesa, principalmente quando toca o hino e sobe a bandeira.
Confrontos mais sutis irão envolver o Paraguai e a Inglaterra (que financiou a derrubada de Solano López), e Alemanha e Polônia (alguém se lembra das fotos dos poloneses a cavalo marchando contra as divisões Panzer de Hitler?). França e Suíça, que se bateram até a exaustão nas recentes eliminatórias, voltarão a se encontrar logo na primeira fase do torneio ("Não agüento mais ver esses caras na minha frente").
O Brasil não pegou um grupo-mamata como da vez passada (Turquia, China e Costa Rica). Pegamos um adversário forte, a Croácia, terceiro colocado em 1998, um time talentoso e muito encardido pra se derrotar; o Japão de Zico, aquela agitação entomológica e meio sem direção, mas que por isso mesmo acaba atordoando nossos jogadores, acostumados a enfrentar ou o talento ou a porrada; e a Austrália, geralmente um time de estivadores de olhos azuis que resolve tudo na base do bufo-bufo e do esbarrão, como fez agora com o Uruguai. O primeiro jogo é o mais difícil, como aliás foi o jogo com a Turquia na Copa passada. Somos favoritos, mas quando o juiz faz "pí!" e a bola rola, todo favoritismo se evapora.
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