domingo, 11 de janeiro de 2009

0737) Ainda o gato de Schrodinger (29.7.2005)



Falei terça-feira passada sobre esta parábola quântica, e dei o exemplo de um jogador que se prepara para bater o pênalte decisivo num jogo. No momento em que ele parte para a bola, daquele chute dependem dois resultados possíveis: se ele fizer o gol, o time A é campeão; se ele perder, o time B é campeão. No momento em que o jogador corre para a bola e vai chutar, ambas as possibilidades são reais. Para metade da torcida, vai ser o carnaval da vitória; para a outra metade, vai ser a decepção total.

Suponhamos, porém, que o jogo já aconteceu, mas eu não sei o resultado. Eu moro no Japão, o pênalte foi num jogo Treze x Campinense decidindo o campeonato paraibano, e nenhuma notícia vai chegar aos meus ouvidos: tenho apenas uma fita VHS com a gravação do jogo. Boto no video-cassete e fico assistindo até o momento em que há o pênalte a favor do Treze, e o atacante corre para a cobrança, preparando-se para fazer o gol que dará o título ao Galo. No momento em que ele chega na bola, eu desligo o video-cassete.

Como num experimento quântico, o fato já aconteceu, mas eu só posso saber o que aconteceu se olhar. E aí entra outro aspecto interessante. Suponhamos que a emissora de TV que gravou o jogo tinha duas câmaras: uma acompanhando o batedor do pênalte, a outra acompanhando o goleiro; e que quando você ligar o video-cassete para ver o desfecho da jogada, você pode escolher se quer ver pela câmara A ou pela câmara B. Veja bem: teoricamente, o jogo já aconteceu, o resultado não pode ser mudado; mas nos experimentos de laboratório o modo como você escolhe ver o resultado determina o que você vai ver “ter acontecido”. Toda vez que você escolhe a câmara A, a bola entra e o time A é campeão. Toda vez que você escolhe a câmara B, o goleiro defende, ou a bola vai pra fora, etc., e o time B é campeão.

Por que? Não sabemos. O universo é assim, “lá embaixo”, no mundo do infinitamente pequeno. Quando realizamos um experimento com partículas sub-atômicas não podemos acompanhá-lo ao vivo e a cores, à distância, sem interferir, como se estivéssemos botando bolas de bilhar para se chocar umas com as outras. A mera energia necessária para observar as partículas interfere com elas. E seja qual for o modo que a gente escolha para observar o resultado, o tipo de observação (ou de medida) que decidimos fazer influencia o resultado. Se olharmos do modo A, dá A. Se olharmos do modo B, dá B.

Cada momento de decisão na Física, em que dois resultados são igualmente possíveis, cria dois universos paralelos a partir dessas duas respostas. E ao escolhermos a maneira de observar o resultado, fazemos com que um desses universos se torne real, e o outro desapareça instantaneamente. A parábola do pênalte decisivo ajuda a mostrar o quanto seria estranho o mundo “macro” em que vivemos, se nele a matéria se comportasse do mesmo modo que se comporta no mundo “micro” da física quântica.

Nenhum comentário: