Infelizmente o Prêmio Nobel só é concedido em vida, e imagino que minhas principais contribuições à Ciência só sejam devidamente avaliadas daqui a um século. É pena, mas não me incomoda, porque é pelo bem da Humanidade que tenho estas idéias.
A mais recente delas consta de uma conferência intitulada “Concerning Quantum Diffraction at the Peripheral Regions of Consciousness”, porque conferências deste nível, claro, são proferidas em inglês, para platéias internacionais. Em português, daria algo como “A Propósito da Difração Quântica nas Regiões Periféricas da Consciência”.
O princípio básico é simples: a existência dos objetos materiais (incluindo seres humanos) está na razão direta do número de mentes que se relacionam com eles. Trocando em miúdos: quando mais pessoas agem em função de algo, mais concreto e real este algo se torna.
Tive esta idéia certa vez em Olinda, quando saí com uns amigos e parei numa ruazinha onde havia quatro bares, quase lado a lado. Três deles estavam repletos de gente, mesas cheias, calçadas cheias, rapaziada tomando cerveja encostada nos carros. O quarto bar (que na verdade era o terceiro, pela ordem) estava vazio: mesas imaculadamente brancas, garçons de braços cruzados olhando o movimento lá fora.
Entramos num dos bares (havia uma mesa à nossa espera) mas não me contive e perguntei por que não íamos para “aquele outro bar, vazio, aqui ao lado”. A resposta foi: “Que bar?”. Ninguém o tinha visto. Era um bar novo, que tinha acabado de abrir, e ninguém tinha se dado conta da existência dele.
Direis agora: “Tresloucado amigo! Isto aconteceu há mais de 20 anos, quando vivias na farra, enchendo a cara sabe Deus do quê!” E eu vos direi: “Claro, mas é uma observação empírica, primeiro critério de qualquer demonstração científica que se preze”.
A banca de revistas na esquina continua a existir porque todo dia a vemos, a reconhecemos, vamos até lá, compramos o “Jornal da Paraíba”. E nossos vizinhos, e os transeuntes casuais, fazem o mesmo. Isto reforça a realidade dessa banca, aumenta a probabilidade quântica de que na manhã seguinte ela esteja lá, como sempre esteve.
Quer uma prova? Moradores de rua. Ninguém os conhece, ninguém na verdade os vê.
Faça um teste. Olhe para aquele canto: há um casal de velhos deitado sobre folhas de papelão. Tire a vista por dez segundos, olhe de novo: há uma criança roendo um pão seco. Tire a vista, volte a olhar em um minuto: há três meninos cheirando cola.
No espaço de segundos, essas criaturas são aleatoriamente substituídas, por um mecanismo quântico do Universo. Bilhões de criaturas geradas randomicamente, nenhuma das quais se fixa, nenhuma se mantém existindo – porque não as vemos, não as registramos e (bora, rapaz, fala a verdade) tiramos a vista delas com a secretíssima esperança de que quando olharmos de novo elas terão sumido para sempre, sem que a gente precise mover uma palha.
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