(ilustração: Michael Whelan)
O planeta de
Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores
terrestres. Seu vocabulário exprime as características da natureza
do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da
cultura. Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do
Pequeno Dicionário Interplanetário de Bolso.
“Assambol”: sistema social de sorteios mediante o qual
duas das pessoas inscritas têm que trocar de residência durante sete dias, cada
uma delas indo dormir na casa da outra, conviver com a família da outra,
exercer o trabalho ou outras funções que são desempenhadas pela outra. O
processo é voluntário e encarado como uma oportunidade de enriquecimento da
experiência pessoal, e geralmente resulta em amizades duradouras.
“Carrebing”: pessoa com temperamento entre egoísta e
ansioso, que a faz ficar de pé diante de um palco prejudicando a visão dos que
estão sentados, furar filas sob o pretexto de que está apenas pedindo uma
informação no guichê mas sempre dando um jeito de ser atendida naquele momento,
segurando aberta a porta do elevador para esperar outra pessoa que vai descer
com ela mas está longe de estar pronta, e assim por diante.
“Sodibo”: praças e estações constantemente cobertas de
decoração festiva (bandeirolas, luzes, etc.) para dar aos visitantes que passem
por aquela cidade a impressão de que ela está em festa, e assim convencê-los a
ficar; quando eles se informarem melhor, ouvirão dizer que a festa “foi na
semana passada” mas em breve haverá outra, e com isto a circulação de viajantes
é sempre grande.
“Sellchinork”: o ritual de, ao acordar pela manhã,
permanecer de olhos fechados rememorando o que foi sonhado durante a noite, e
anotar as partes mais significativas antes da primeira refeição do dia.
“Jorrops”: pequenas bolsas pregadas à parte de trás dos
assentos dos transportes públicos, contendo livrinhos de natureza variada para
serem lidos pelos passageiros durante a viagem; quem quiser levar um, deixa
outro.
“Torinid”: lanche popular que consiste em espetinhos de
bolas de carne tipo almôndegas, enfiadas uma a uma, cada qual com sabor
diferente: apimentado, doce, empanado, guisado, com legumes, etc.
“Coniara-Tere”: período na adolescência em que o rapaz ou
a moça tem que passar um mês inteiro na casa de uma família, ajudando nos
trabalhos dentro e fora de casa, convivendo, estudando; ao fim de cada mês, a
família decide para que casa ele(a) deverá seguir para avançar no seu
aprendizado.
“Dossodip”: diz-se de certos trejeitos físicos ou cacoetes
verbais que uma pessoa tem mas não se dá conta, mas as pessoas que convivem com
ela se acostumam a perceber e com isso deduzir suas reações de desagrado,
surpresa, interesse, etc.
“Tulunfass”: instrumento musical que consiste num pote de
barro grande, arredondado, cheio de água até certo ponto, com penduricalhos
metálicos que se agitam a produzem reverberações quando o exterior do pote é
percutido com as mãos nuas ou com baquetas forradas de lã.
“Mariuk-dan”: o costume de, antes do sepultamento de uma
pessoa, cada parente ou amigo se dirigir para a sepultura antes de ser fechada
e colocar ali algum pequeno objeto (ou uma réplica dele) simbolizando o laço que
o ligava à pessoa falecida.
“Edjiume”: pequenos suportes, geralmente de louça ou de
metal, que se coloca sobre a mesa e nos quais pode-se prender um livro aberto.
Servem para liberar as mãos das pessoas que gostam de ler enquanto fazem um
lanche.
“Kam-Unin”: objetos, ou pequenas coleções de objetos,
cuidadosamente acondicionados, que os pedreiros costumam inserir entre os
tijolos, entre as telhas ou sob o piso de uma casa, durante a construção, e que
servem como pequenas cápsulas-do-tempo (sempre têm a data gravada) para serem
descobertas e apreciadas num dia futuro.