A Internet e as redes sociais parecem, tanto em tempo de
calmaria quanto de tempestade, uma agência de publicidade em momento de
entressafra. Aquela sala tranquila, cheia de gente semidesocupada com o rabo do
olho nas telinhas, esperando um assunto, um tema, uma deixa. Quando aparece,
caem todos sobre aquilo como abutres famintos sobre um búfalo em decomposição.
Não, esta metáfora é meio negativa. Digamos que os “meme makers” caem sobre um
bom factóide como uma dupla de repentistas cai em cima de um mote bom. Um grupo
de cartunistas, de piadistas stand-up, etc.
Uma bobagem viraliza, independente de ser ou não bobagem. O
que a viraliza é uma mecânica muito rápida que faz centenas ou milhares de
palpiteiros visuais responderem, cada qual com sua respectiva panchlaine, cada
um com seu aprouche. Aí começa a pipocar o comentário do comentário, e o comentário
do comentário do comentário. Uma deixa é postada num mural de altíssima
visibilidade às 9 da manhã de Londres, e às nove da noite em São Paulo o mundo já foi
percorrido por ondas sucessivas de flashes, réplicas, tréplicas, inversões,
metacomentários, recontextualizações, releituras, paródias.
Um gif é um cartum móvel. Uma coisa já corriqueira neste
inesgotável Facebook em que eu (pelo menos) passo o dia enfiado, mas quem sabe
um dia veremos gifs animados substituindo as fotos nos jornais de papel. Não me
falem de anacronismo. Jornal de papel é como copo dágua, nada o substitui. Nada
no cânone da FC nos impede de imaginar um mundo onde jornais de papel possam
funcionar. Os “Vitorianos” futuristas de Neal Stephenson em The Diamond Age
(1995) folheiam jornais, estudam em livros. Diferentes ,
claro. A tecnologia já existe, e até o nome (“smart paper”, no sentido em que
dizemos “edifício inteligente”). Um certo fetiche da corporeidade sempre
permanece, e teremos papel capaz de suportar pixels eletrônicos produzindo
ilusão de movimento.
Gifs animados substituirão as fotos coloridas das
revistas e jornais. Incrustaremos em nossos textos jornalísticos essas pequenas
bolhas de espaço e de tempo, esses micro-momentos preservados num loop
infindável. Na capa da revista o político estará sério mas em alguns segundos
abrirá um sorriso paternal de Grande Irmão. A atriz linda estará meio de perfil
em outra capa, mas quando tocarmos no papel o gif será ativado e ela voltará o
rosto e os olhos para nós. Na revista de futebol o gol de placa estará rodando
sem parar. Na revista de notícias reveremos em cada página a explosão do
atentado, a queda do Boeing num desabrochar de chamas, o beijo dos noivos
célebres, todas essas pequenas mortes que nos dão ilusão de eternidade.
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