Esta é a época em que os críticos fazem listas dos melhores livros do ano, mas os críticos parecem ler somente o que foi lançado agora. Minhas leituras são aleatórias. Tenho muito mais interesse pela literatura de cem anos atrás do que pela atual. Não que uma seja melhor do que a outra. É mera veneta, cacoete mental; é como achar que qualquer rua de Istambul ou Toronto deve ser mais interessante do que a rua aqui do lado. Dito isto, vamos em frente.
Terminei este ano de ler a coletânea Ghost Stories of
Henry James. James é um desses casos meio raros de autores de estilo refinado
que escreviam caudalosamente. Como produziu esse sujeito! Seus contos de fantasmas
são quase todos psicológicos, de clima, ambientação, ilustrações perfeitas para
a teoria todoroviana da oscilação entre explicação real e sobrenatural. Vão do
gótico puro de “The Romance of Certain Old Clothes” (1868) até o desdobramento
físico em “The private life” (1892). Todos são muito bons. Há uma certa falta
de surpresa nos desfechos, mas a literatura de James reside mais nos detalhes
do que na estrutura, que é clássica, previsível.
Li este ano O Mago (2008) de Fernando Morais, biografia
de Paulo Coelho, desmerecida por alguns por ter sido uma biografia “chapa
branca” (autorizada). Biografias autorizadas podem ser boas, sim, menos para
quem só pensa em escândalo. Morais traça com precisão o histórico do Mago, e
mostra, curiosamente, que desde a adolescência ele sonhava em ser o escritor
mais bem sucedido do mundo. Eu achava que ele era um roqueiro que virou
best-seller meio por acaso. Não era. Foi um projeto profissional que, com
desvios inevitáveis pelo temperamento malucão do personagem, e também da época,
sofreu mil contratempos, mas se realizou.
Também este ano terminei finalmente de ler The Crying of
Lot 49 (1966), o mais curto dos romances de Thomas Pynchon, mas espantosamente
concentrado. A prosa de Pynchon é pesadíssima de alusões culturais, mas em seus
momentos mais leves é uma delícia de barroquismo pop. Este livro é um clássico
das teorias da conspiração romanescas (ou seja, as que não se propõem como
verdadeiras), sobre uma organização secreta de correios infiltrada nos EUA.
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