(ilustração: Rodney Allan Greenblat)
Elisha Nelbroy III, de Cincinatti (Ohio), 36 anos, perdeu a
aliança numa briga de bar e acabou separando da esposa que nunca acreditou que
foi mesmo uma briga. Ele era arriado dos quatro pneus por ela. Vivia suplicando
uma chance. Dois anos depois a garçonete do bar, que o conhecia, achou a
aliança numa fenda da madeira sob o balcão, e a devolveu a Elisha. Ele botou a
aliança no bolso, a moça no carro, foi até o trabalho da esposa (era na redação
do jornal da cidade) e exibiu a prova diante de todo mundo. Hoje vive a esposa
pedindo perdão e ele nem aí, anda saindo adivinha com quem.
A família Dambroa, do Cariri paraibano, perdeu um tesouro
enterrado por um antepassado seu, em coordenadas que foram decoradas por seus
três filhos, só que depois da morte do pai cada um deles as transmitiu para os
seus descendentes com erros de interpretação, de sorte que até hoje ninguém
chegou a um acordo sobre os dizeres da fórmula e todos brigam sem parar
atribuindo-se culpas, enquanto o tesouro continua esperando que brilhe no clã
alguma fagulha de inteligência, porque esperar por sensatez é tempo perdido.
Amalic Tangrau, de Istambul (Turquia), 45 anos, perdeu um
gato ao se mudar de sua antiga casa em Cihangir, para um novo condomínio do
outro lado da cidade. No segundo dia após a mudança o gato sumiu. Os amigos e
vizinhos o aconselharam a procurar o gato no antigo endereço, mas ele
recusa-se, dizendo que é impossível o gato ter voltado, uma vez que durante a
mudança foi transportado numa caixa, sem ver por onde estava passando.
Jean-Claude Soubiroux, de Paris, 33 anos, perdeu uma frase
lida na adolescência num livro aberto ao acaso, de cujo título não se recorda,
e cujo autor não conhecia; gravou na memória essa frase de cerca de vinte
palavras, e dedicou toda sua vida adulta a tentar recuperá-la, na escola, na
Sorbonne, nas rodas literárias, nas bibliotecas, sempre em vão, até mesmo
depois do advento do Google, onde ele já a digitou com todas as variantes
imagináveis em todas as línguas que pôde, mas continua sem saber de quem é e
onde a encontrou.
Um comentário:
Muito bom, Braulio!
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