Um amigo postou dias atrás numa rede social este pequeno episódio que aparece nas memórias de Isaac Asimov. Ele conta um sonho que recordou com enorme clareza ao despertar (segundo ele, algo raro de lhe acontecer). Sonhou que morreu e foi pro Céu, que consistia nos habituais relvados verdejantes, nuvens, ar perfumado e coros celestiais cantando à distância. Ele perguntou se era o Céu, e o Anjo ao lado confirmou. Isaac: “Mas meu lugar não é aqui. Eu sou ateu.” “Não houve erro nenhum,” disse o Anjo. “Quem decide quem vem pra cá somos nós.” Ele olhou em volta e perguntou: “Será que tem aqui uma máquina de escrever que eu possa usar?” E o significado do sonho ficou claro para ele. O Paraíso, na sua cabeça, era o ato de escrever, e ele achava que já estava no Paraíso há cinquenta anos, e sempre tinha sabido disto.
Esse
é mais um ponto de semelhança entre Asimov e Jorge Luis Borges, para quem o
Paraíso era uma espécie de biblioteca. O ato de ler e de escrever está
associado neles a uma espécie de paraíso das endorfinas ou serotoninas, não sei
exatamente quais são as substâncias associadas ao nosso ofício, só sei que são
celestiais. Devem ser as mesmas que
muitas pessoas descrevem experimentar após quarenta minutos caminhando ou
trinta puxando ferro.
Pode
ser que o Além seja mais hierarquizado do que a gente imagina, e que cada
pessoa tenha direito a um céu de acordo com o que de fato mais gostava de
fazer. Escritores que reclamam do
“sacerdócio” e das privações da vida de autor deverão ser proibidos de
escrever, e contentar-se com um Paraíso onde se joga o bilhar e mais nada. Bem feito. Escritores que trabalham na boa,
sem fazer drama, terão direito a usar seu tempo como quiserem, seja ao teclado
ou se distraindo. (Há distrações e
entretenimento no Paraíso, e não é algo tão kitsch e careta como alguns podem
estar pensando. Tem mil coisas legais. Só não tem sexo, drogas e
rock-and-roll. Asimov e Borges até agora
não se queixaram.)
Um comentário:
Paraíso sem sexo e drogas, tudo bem. Mas sem rock and roll?!!! Inimaginável.
Postar um comentário