Cities in Flight é o nome geral de uma série de histórias
de ficção científica publicadas por James Blish entre 1955 e 1962. Mediante a
descoberta de uma energia antigravitacional, chamada “spindizzy”, é possível
isolar cidades inteiras da Terra, cobri-las com um cúpula pressurizada,
transformá-las em verdadeiras ilhas celestes, e fazê-las levantar voo pelo
Sistema Solar e além. Espaçonaves não
apenas do tamanho de Manhattan, mas levando a própria Manhattan inteira dentro
de si, universo afora.
A FC estava explorando o conceito de naves cada vez maiores,
mais complexas, com milhares de tripulantes, “naves-geração” viajando séculos
afora pelo espaço. Naves cada vez mais parecidas com uma cidade. Blish pulou
ousadamente para a extremidade oposta da idéia. Ao invés de transformar a nave
numa cidade, transformou as cidades em naves.
É a mesma mentalidade por trás dos grandes transatlânticos
de cruzeiros marítimos, cuja publicidade insiste o tempo inteiro em descrever
como algo do tamanho de uma cidade, com todas as opções e todos os serviços de
uma cidade, só que despregadas do continente, da continuidade das obrigações do
trabalho. Um paraíso de lazer que
cortou o cordão umbilical que o prende ao princípio da realidade, das
obrigações, dos deveres.
Cidades realizando a utopia urbana de não se verem presas a
um país, a um ambiente rural. A cidade inventiva, tecnológica, aventureira,
decolando espaço afora com a única missão de enfrentar aventuras e desafios. A
cidade vira uma metáfora da mente, da inovação, da invenção, do progresso, do
fervilhar de idéias; é ela quem se lança no espaço aventuresco. Quem fica para trás é o mundo rural, o corpo
físico, aquela coisa conservadora, materialista, cuja necessidade de comida e
de descanso atrapalha a criatividade da mente.
Claro que as aventuras e a necessidade de sobrevivência no
espaço acabam mostrando a esses aventureiros o lado mais espinhoso da aventura,
mas o ciclo de romances de Blish se baseia numa daquelas imagens que só uma
certa arte pode proporcionar. A justaposição inesperada de duas coisas,
reveladora de uma realidade inquietante; como os relógios moles de Dali, a
bicicleta voadora do “E.T.”, a Gioconda bigoduda de Duchamp, a ceia dos
mendigos de Buñuel, os rostos-perfis de Picasso, a Estátua da Liberdade na
praia do Planeta dos Macacos.
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