(túmulo de Kim Philby na Rússia)
Espiões duplos são um tema fascinante. Imagine só: o cara
é um espião inglês, e mora em Moscou, disfarçado de adido de embaixada ou outra
coisa assim. Um dia, sigilosamente, ele se oferece à URSS para entregar
segredos britânicos, e é aceito. Ele começa a fazer esse jogo. Mas a certa altura ele vai ao governo inglês
e conta o que aconteceu: está trabalhando para os russos, que têm toda
confiança nele... porque não se aproveitar disso? Ele ganha um aumento e,
orientado pelo Serviço Srecreto britânico, passa a transmitir aos russos
segredos falsos. Mais adiante, ele é descoberto pelos russos e forçado a
confessar essa jogada. E têm uma idéia: por que não aproveitar a situação, dar
mais uma reviravolta, e recomeçar tudo? Os
russos lhe dão um novo aumento, e ele passa a transmitir segredos verdadeiros
da Inglaterra... O agente duplo ideal trabalha para os dois lados e não
trabalha para nenhum. Só ele sabe a qual dos dois está de fato ajudando, e às
vezes nem mesmo ele.
Um livro policial de Kyle Hunt, que li séculos atrás,
tinha este ótimo título: “Quem mata torna a matar”. Eu diria que na espionagem,
e na vida em geral, num sentido mais metafísico, quem mente torna a mentir. No
momento em que o sujeito conta sua primeira mentira, e um raio não cai do céu
reduzindo-o a pó de traque, ele percebe que é indestrutível, e aí mente de
novo, e de novo, e de novo. Não me refiro a mentirinhas bobas, tipo ir beber
com os amigos e dizer à esposa que jantou com o patrão. Falo de mentir para o
Serviço Secreto da própria pátria. Quando nada acontece, o cara percebe que
pode fazer aquilo impunemente, mesmo que suas chances de ser apanhado sejam
sempre imprevisíveis.
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