Li uma historieta certa vez em que um aluno, depois de fazer uma excelente prova subjetiva (com pequenas dissertações respondendo cada pergunta) queixou-se ao professor de ter ficado com a nota 9,5. O professor respondeu: “Nove e meio significa que você acertou tudo. Pra tirar 10, você vai ter que me ensinar algo que eu não sabia.” Eu diria que cada professor, por mais incompreendida que seja sua matéria (pense Física, pense Matemática) encontra de vez em quando um aluno que se destaca de todos os outros. No meio de quarenta da turma ou de quinhentos do colégio, ele chama a atenção pelo seu brilho numa matéria. Em papo de sala dos professores, já vi um colega mostrando aos outros uma prova e dizendo: “Essa garota fez uma prova tão boa que eu tive vontade de dar onze. Um 10 me pareceu uma nota chocha.”
Você só se destaca naquilo onde você excede, e mais, naquilo
que você excede por conta própria, por exuberância sua, e não por cobranças
vindas de fora. O aluno que faz uma
prova impecável, toda respondida bem direitinho, leva para casa um 10 e acha
que abalou. Nem sempre. Às vezes uma prova nota 10 nos deixa a
sensação de que aquele aluno aprendeu apenas o necessário para acertar tudo,
mas se a prova tivesse uma pergunta a mais ele talvez não soubesse respondê-la.
O ideal seria que todos os alunos tivessem um bom nível de
entendimento e de aplicação, fizessem provas satisfatórias, etc. Nunca vai
acontecer, principalmente num meio social irregular como o nosso. E é bom que não aconteça. Prefiro os
desníveis da vida real do que uma grande proficiência coletiva mas de forma
robotizada, impessoal, onde todo mundo é aluno modelo mas é incapaz de ir além
do que está sendo ensinado. O objetivo do ensino é jogar os alunos numa
situação em que eles esqueçam “o que cai na prova” e aprendam mais do que seria
necessário: só então vão surgir os que excedem.
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