Gambiarra é gato, é ligação clandestina, é fiação
descoberta, é improvisação informal ligeiramente abaixo do piso de legalidade
imposta aos autônomos em geral.
Gambiarra é arranjo, é ajuste, é quebra-galho,
é um pra-ver-se-cola alicerçado pelo norrau de quem faz isso o tempo inteiro.
Na minha infância, “gambiarra” eram aquelas cordas esticadas
no ar, com lâmpadas penduradas, numa praça onde ia haver um comício, numa festa
ao ar livre, etc. Este me parece ser o sentido português do termo, porque a
Wikipédia registra: “Em Portugal, o significado predominante seria ‘extensão de
luz’. Entre outros significados, destacam-se ‘ramificação de luzes’ (Ferreira,
1999)”.
Uma definição em inglês que vi recentemente circulando
nas redes sociais diz (tradução minha):
“Gambiarra é uma definição brasileira para o desvio informal de conhecimento técnico. É uma prática cultural generalizada, que consiste em todo e qualquer tipo de soluções improvisadas para problemas do dia-a-dia, com qualquer material que se tenha à mão”.
Entre
os sinônimos em inglês sugeridos, está o divertido “McGyverism”, que faz
referência ao McGyver da série de TV, o agente secreto capaz de inventar
soluções improvisadas para tudo. (Eis um saite de gambiarras de cinema/TV: http://shittyrigs.com/).
Gambiarra é quando alguém resolve um problema mecânico,
hidráulico, elétrico, etc. usando recursos improvisados. Claro que tanto pode
produzir coisas bem feitas quanto mal feitas. A boa gambiarra indica
conhecimento do problema e habilidade para resolvê-lo, mesmo que os materiais
sejam de má qualidade e que haja maneiras mais eficazes de solucioná-lo.
A
gambiarra mal feita pode produzir curto-circuitos elétricos, estouros /
vazamentos / infiltrações hidráulicas, construções de alvenaria tortas e
instáveis e assim por diante. A gambiarra não é garantia de trabalho eficiente
nem é indício de incompetência.
O lado negativo, parece, é que quando um
problema prático extrapola a tradição alguns engenheiros ficam de mãos
atadas, porque não foram ensinados a pensar “fora da caixa”. Vai daí que todo
curso prático (Engenharia, Medicina, Arquitetura, etc.) deveria uma cadeira
chamada “Gambiarra” que percorresse o currículo do primeiro ao último ano. A
arte do improviso, para fazer frente ao Acaso, ao Imprevisível, ao
Imponderável.