(Alvin Lee em 1975)
Morreu dias atrás, numa cirurgia que não ficou bem
esclarecida, aos 68 anos, o guitarrista Alvin Lee. Vi-o pela primeira vez no
filme Woodstock, cantando (e estraçalhando com os dedos) “I’m going home by
helicopter”. Era um sujeito de cara
engraçada, comprida, tocava de um jeito totalmente descontraído de quem não
estava nem aí. Fazia uma coisa aqui, depois outra ali, abafava as cordas,
jogava uma distorção, dedilhava nos bordões, depois vinha no pezinho do braço,
testando sonoridades e escalas velocíssimas, mas – atenção – sem nunca perder o
senso melódico. Tudo que fazia ao improvisar tinha uma intenção musical, não se
resumia à simples rapidez acrobática.
Figura engraçada, Alvin Lee. No fim da apresentação de sua
banda, o Ten Years After, em Woodstock, ovacionado pela galera, alguém se
aproximou dele no palco e lhe entregou uma enorme melancia. Ele agradeceu,
botou a melancia em cima do ombro, acenou para a galera, e saiu dali como se tivesse
subido ao palco apenas para atender um pedido de um amigo: “Olha, sobe aí e faz
10 minutos de improviso que eu te dou uma melancia”.
Guitarra é um instrumento danado de difícil, mais difícil do
que violão, porque mais cheio de recursos. (Claro que podemos dizer também: o
violão é mais difícil, porque os recursos são mais limitados, é preciso criar
sonoridades apenas com o que está ali.) Alvin Lee não tinha apenas a velocidade
supersônica que, infelizmente, acabou se hipertrofiando no rock e deixando para
trás a sonoridade. Lee é da escola dos que fazem um solo longuíssimo com a
guitarra aberta em notas nítidas e cristalinas com 20% de eco e 15% de
distorção, apenas o necessário para que os dedilhados velozes se alternem com
longas sustentações de notas que se elevam gemendo, retorcem-se sobre si mesmas
como espirais de DNA e por fim deixam-se tombar no chão sonoro, enquanto o
músico dispara em outra saraivada de semicolcheias que passeiam por todos os
trastes ao mesmo tempo.
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