Estávamos tocando violão num terraço. No meio do pot-pourri, não me perguntem como, cantamos “Mulher Rendeira”. Depois, na hora do “o-tocador-quer-beber”, um estrangeiro fluente em português, amigo dos donos da casa, perguntou o que era “mulher rendá”. A gente se safou dizendo que o verso dizia: “mulher, rendar!”, algo como: “mulher, tá na hora de fazer renda!”.
Não sei se ele acreditou. Eu (que dei a explicação) não acreditei. Fiquei matutando e tenho uma teoria.
É uma constante na música
brasileira a presença de versos, títulos, refrões (principalmente refrões) que
constam de dois elementos, um terminando em “Ê” e o outro terminando em “Á”.
Acho que o mais típico é o famoso refrão do samba do Salgueiro em 1971, “Festa para um rei negro”: “Ô-lê-lê, ô-lá-lá, pega no ganzê, pega no ganzá” (ouça aqui: http://bit.ly/dUgjM.) Tão famoso que hoje é cantado (com outra letra, claro) pela torcida do Barcelona.
Tanto quanto o “rendá” do exemplo anterior, o “ganzê” é uma palavra que em princípio não existia, entrou apenas para compor o dístico. Pega bem no ouvido do povo essa sequência de sons, ê-á, ê-á. Pega bem no meu ouvido, pelo menos – e imagino que pegue bem no da galera, pela quantidade de exemplos que tem por aí.
Acho que o mais típico é o famoso refrão do samba do Salgueiro em 1971, “Festa para um rei negro”: “Ô-lê-lê, ô-lá-lá, pega no ganzê, pega no ganzá” (ouça aqui: http://bit.ly/dUgjM.) Tão famoso que hoje é cantado (com outra letra, claro) pela torcida do Barcelona.
Tanto quanto o “rendá” do exemplo anterior, o “ganzê” é uma palavra que em princípio não existia, entrou apenas para compor o dístico. Pega bem no ouvido do povo essa sequência de sons, ê-á, ê-á. Pega bem no meu ouvido, pelo menos – e imagino que pegue bem no da galera, pela quantidade de exemplos que tem por aí.
Chico Buarque se consagrou, aos
meus ouvidos, não com “A banda”, mas com “Olê Olá” (“Não chore ainda não / que
eu tenho um violão / e nós vamos cantar...” – em: http://bit.ly/dUgjM), a canção que deixou
pelo menos uma frase-feita na língua brasileira: “a noite é criança, o samba é
menino”.
João Bosco tem o ótimo “Odilê, odilá... / Que que vem fazer aqui meu irmão? / Vim sambar” (em: http://bit.ly/7s1cw1). E reparem como mais uma vez um dos termos parece fazer sentido na frase e o outro não, porque “odilá” pode ser uma saudação à distância como “ó de lá”, uma possível resposta para “ó daqui!”; e o “odilê” não parece ter sentido verbal, o sentido é apenas melódico, para compor o dístico sonoro.
Sem esquecer, aqui pertinho, Beto Brito com seu “Imbolê”: “Tá o maior imbolê / tá o maior imbolá / em me embolei com você / ninguém vai desembolar...” (em: http://bit.ly/9PsSNr).
João Bosco tem o ótimo “Odilê, odilá... / Que que vem fazer aqui meu irmão? / Vim sambar” (em: http://bit.ly/7s1cw1). E reparem como mais uma vez um dos termos parece fazer sentido na frase e o outro não, porque “odilá” pode ser uma saudação à distância como “ó de lá”, uma possível resposta para “ó daqui!”; e o “odilê” não parece ter sentido verbal, o sentido é apenas melódico, para compor o dístico sonoro.
Sem esquecer, aqui pertinho, Beto Brito com seu “Imbolê”: “Tá o maior imbolê / tá o maior imbolá / em me embolei com você / ninguém vai desembolar...” (em: http://bit.ly/9PsSNr).
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