(Philip K. Dick)
Em Realidades Adaptadas, coletânea de contos de Philip K.
Dick (Ed. Aleph, 2012), aparecem alguns contos do princípio da década de 1950
em que Dick começou a fazer experiências com os personagens a que viria a
chamar de “precogs”, pessoas dotadas de precognição, a capacidade de adivinhar
o futuro. A palavra “adivinhar”, neste caso, é um barbarismo, e a usei apenas
para denunciar o quanto os maus hábitos verbais prejudicam nossa capacidade de
entender as coisas. Adivinhar é pensar numa coisa de maneira meio aleatória,
sem justificativa, sem nenhum esforço especial, e aquilo depois se revela
verdadeiro. Não é isso que acontece com os precogs de Dick. O conto “Relatório
Minoritário” (que deu origem ao filme Minority Report, de Spielberg) ajudou
muito a popularizar esse conceito. Os
precogs são capazes de antever os diversos futuros possíveis a partir de um
determinado momento; enquanto certos atos não são praticados, vários resultados
podem coexistir. O presente, para eles,
é como um dado rolando, só que eles conseguem perceber que há mais fatores
induzindo que dê, por exemplo, o 2 e o 5 do que o 4 ou o 3 – e essas condições
mudam sem parar, a cada minuto que passa.
O que acontece, segundo Dick, é que esses futuros possíveis
são instáveis. A melhor comparação com isso, na vida real, é a cobrança de um
pênalti no futebol. Quando o jogador parte para a bola, várias coisas podem
acontecer, na verdade estão a “um tantinho assim” de acontecer, mas estão
sujeitas a micro-decisões que o chutador e o goleiro tomarão nos segundos
finais. No conto de Dick, os três
precogs que trabalham para a polícia preveem os crimes antes que eles sejam
cometidos, mas nunca há 100% de certeza de que o crime acontecerá, como no
pênalti não se tem certeza de que o gol acontecerá. Daí que a visão de cada
“precog” dê origem a um relatório sobre esse crime possível, e quando dois
desses relatórios (a maioria) coincidem, a polícia entra em ação para fazer com
que o crime não aconteça. A trama do conto de Dick é baseada na existência do terceiro,
o “relatório minoritário”, que ele usa para tornar o enredo mais surpreendente,
cheio de reviravoltas.
Um comentário:
bem interessante. deu vontade de ler.
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