Um
grupo de holandeses malucos está tentando criar um projeto espacial mais ousado
do que o das sondas marcianas e da estação espacial. A idéia é mandar para Marte uma expedição tripulada, que lá
deverá construir uma base, onde todos eles habitarão até o fim de suas vidas,
sabendo que sua volta à Terra não está prevista. Tudo que lhes acontecer no
outro planeta será visto como um reality show por países da Terra inteira.
Pensa-se de início num custo de 6 bilhões de dólares, que, comparados às cifras
das primeiras páginas dos jornais de hoje, são até uma soma modestíssima.
O
dono do projeto é Bas Lansdorp, de 35 anos, dono de uma companhia de energia
eólia. Ele ainda está em busca de patrocinadores para o projeto, que se chama “Mars
One”. A idéia é treinar os astronautas durante dez anos, e mandá-los para Marte
em 2023. Será arriscado? Será desumano?
Será lucrativo? Só se sabe fazendo, assim como (admite Lansdorp) o treinamento
não pode se comparar, ainda mais no aspecto psicológico, ao indivíduo vivendo
uma situação “agora é pra valer”.
Luís
Buñuel pensou numa possibilidade parecida. Comentando o misterioso
enclausuramento dos comensais em O Anjo Exterminador, ele disse que o filme
dele não pode se comparar nem ao famoso quadro de Géricault A Jangada da Medusa (náufragos
amontoados numa balsa) nem a “um filme de ficção científica sobre quinze
astronautas numa espaçonave perdida pelo espaço”. Porque o que distingue essas histórias é que os personagens estão
fisicamente impedidos de escapar, mas no filme de Buñuel nada os impede, além
das coisas que pensam; sua barreira é mental.
Em Marte, será física.
Talvez
o projeto de Lansdorp tenha um aspecto buñuelesco. O mundo (este mundo) está
preso numa sala de visitas, num coquetel ou jantar-de-gala interminável,
enquanto a cozinha pega fogo, os quartos se deterioram, e o mato bravo toma
conta do jardim. Como na festa dos burgueses em L’Âge d’Or, em que uma
carroça de camponeses bêbados cruza o salão de baile, sem que ninguém dê o
braço a torcer percebendo-a, continuamos em plena Ilha Fiscal. Só falta mesmo é
criar um reality show interplanetário, uma mistura do Show de Truman com Robinson Crusoe em Marte.
Um comentário:
Escrevi um poema marciano.
Lembrei de ti.
http://fernandezdepalleja.wordpress.com/2012/09/30/366-grados-dia-131/
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