sábado, 10 de julho de 2010

2251) O ataque e a defesa (26.5.2010)



Leio muito sobre futebol, principalmente em jornais, revistas e saites da Internet. Também passo noites inteiras (quando poderia estar lendo Proust) perdendo meu tempo diante das mesas-redondas da TV. Isto certamente prejudicou minha carreira literária, não apenas pelos livros que não escrevi, mas porque assistir esses debates reforça minha neurose existencialista, minha convicção na falta de sentido da presença do ser humano sobre a Terra.

Um assunto dominante nesses espaços da imprensa é a beleza do futebol ofensivo, daquilo que os jornalistas brasileiros gostam de chamar “o futebol ágil, veloz, moleque, buscando o gol”. Mais ou menos o que o time do Santos e o do Barcelona fazem hoje em dia. É muito raro, pelo menos na imprensa a que tenho acesso, aparecer uma voz discordante, dizendo que não prefere esse futebol de ataque. E os técnicos, quando entrevistados, também elogiam com veemência esse tipo de jogo. Acontece, porém que quando os técnicos pegam um time para treinar, a primeira coisa que fazem é colocar três zagueiros e quatro volantes – para defender. Futebol atacante é bonito no time dos outros, no meu não. Quem quiser que ataque. Eu, que não sou besta, vou é me defender.

É muito fácil ser adepto do imprevisível quando se está teorizando, mas na hora de praticar a gente quer as coisas sob controle, e a melhor maneira de conseguir isto é reforçar a defesa. No futebol, ficar na posição passiva é uma maneira de ter o controle da situação. Delega-se ao adversário toda a iniciativa; e prepara-se a própria equipe para destruir qualquer iniciativa dele, pela razão elementar de que é mais fácil (em teoria) destruir do que criar, é mais fácil interceptar um passe do que fazer um passe certo, é mais fácil derrubar com um esbarrão um jogador driblador do que dar um drible. E pode-se fazer isso com talento: é o que fazem Julio César, Maicon e Lúcio, do Inter de Milão e da Seleção Brasileira.

Quando estamos teorizando, pensamos no Ideal, pensamos no Futebol do Monte Olimpo. Quando vamos dirigir uma equipe, pensamos em garantir nosso emprego. E é mais fácil garanti-lo impedindo que o adversário jogue do que jogando. No futebol (na maioria dos esportes) o ataque é o reino do imprevisível, da criatividade, da surpresa, do imponderável. A defesa é o reino da nitidez, do planejamento, da previsão de todas as possibilidades. O ataque é a Arte, a defesa é a Administração de Empresas. O ser humano vive eternamente dividido entre dois impulsos contraditórios: Aventura e Segurança. Precisamos dos dois, e quanto mais nos esforçamos para ter um mais sentimos falta do outro. São o Yin-Yang da nossa existência, e em nenhuma esfera isso aparece de forma tão nítida quanto no futebol. Quem joga melhor, a defesa do Inter ou o ataque do Barcelona? Um ou dois jogos entre eles não nos dão a resposta. Teriam que jogar entre si toda semana, para que a gente pudesse ter uma idéia.

Nenhum comentário: