Circula na Internet um documento atribuído ao linguista Noam Chomsky, um conhecido crítico das políticas dos EUA. O documento que circula talvez seja apócrifo, mas não importa. O autor enumera e comenta algumas das estratégias utilizadas pelos governos e pelas corporações para manter o controle ideológico da população e impedir que suas ações sejam questionadas.
Tudo isto faz parte do modelo de ação das atuais ditaduras, que, diferentemente das ditaduras violentas e repressivas do século 20, as que eu chamo de Ditaduras do Chicote, são ditaduras gratificadoras e dissipativas, o que chamo de Ditaduras do Chiclete. “Gratificadoras” porque perceberam (como no famoso prefácio de Aldous Huxley ao seu Admirável Mundo Novo) que dominar pelo prazer é mais eficaz do que pela violência e pelo medo; “dissipativas” porque ao invés de reprimir e perseguir as idéias que lhes são contrárias elas as dissipam e diluem numa enxurradas de idéias contraditórias, irrelevantes e neutralizadoras.
O documento atribuído a Chomsky refere o que chama de “Estratégia de Falsas Soluções”, que consiste no seguinte: “Criar problemas, depois oferecer soluções. Este método também é chamado ‘problema-reação-solução’. Cria-se um problema, uma ‘situação’ prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.”
As ditaduras atuais procedem assim, e não me refiro à Coréia do Norte ou à China. Ditaduras do Chiclete são a quase totalidade dos governos ocidentais e modernos. (Este “quase” entra aqui como ressalva retórica, mas se me pedirem uma exceção que o justifique eu não vou saber dizer.) No caso do Brasil, por exemplo, a ditadura não é Lula, não é o PT. O poder republicano de Brasília é um enorme aparato teatral de muita agitação e pouca eficácia, montado para distrair a atenção do público enquanto a verdadeira ação do poder (a ação econômica) se desenvolve em segundo plano.
Na “Estratégia das Falsas Soluções”, ninguém responsabiliza as grandes corporações pela criminalidade nas ruas: responsabiliza a prefeitura, o governo do Estado, e mais remotamente o governo federal. Os problemas não precisam ser criados por esse “governo invisível”, em geral eles são apenas efeitos colaterais de sua ação (exploração predatória de recursos naturais, desemprego em massa por fechamento de fábricas, etc.). Quando aparecem, no entanto, são úteis para ele, porque desviam na direção do “governo visível” a atenção da população e da imprensa, que cobra medidas para amenizar os efeitos, sem questionar as causas.
2 comentários:
a ditadura do chiclete consegue um controle superior sobre a vida das sociedades; superior ao da ditadura do chicote. esvazia o sentido da democracia, e age de forma mais violenta sobre a vida dos indivíduos.
bravo, bráulio!
Isso mesmo, Orlando. É mais fácil (e mais lucrativo) seduzir/cooptar do que reprimir/perseguir.
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