sexta-feira, 5 de março de 2010

1748) Brasil 0x0 Colômbia (17.10.2008)



Ganha fora, empata aqui; ganha fora, empata aqui. É o iôiô da Seleção Brasileira, um sobe-e-desce constante que, bem ou mal, vai nos mantendo aos trancos e barrancos rumo à classificação para uma Copa do Mundo onde queira Deus que enfrentemos times mais fáceis de derrotar do que Colômbia e Bolívia. É o nosso karma jogando em casa, e a culpa não é de Dunga. Parreira se queixava, Filipão se queixava, Luxemburgo, Leão, todos se queixavam da mesma coisa. Quando os times sul-americanos vêm jogar aqui, fecham-se atrás numa retranca fanática, impiedosa, dando a impressão de que da linha divisória para trás existem 25 ou 30 jogadores com aquela camisa de cor diferente.

É um verdadeiro arrastão, cada vez que o Kaká ou Robinho pega na bola. Nada daqueles vastos espaços abertos fornecidos domingo passado pela ingênua seleção da Venezuela, que deixou todo mundo fazer o gol com o pé que mais lhe convinha. Aqui no Maracanã, amigos, cada vez que a bola chegava perto de uma camisa amarela apareciam dois ou três trombadinhas de camisa azul que cercavam, esbarravam, empurrava, acotovelavam, travavam, até arrancar a jogada pela raiz. Foram noventa minutos disto.

E noventa minutos de incompetência, se bem que para ser diplomático é melhor chamar de “falta de inspiração”. Competência todo mundo sabe que Fulano e Sicrano têm, mas diante da torcida brasileira baixa uma responsabilidade maior que tolhe as pernas da rapaziada e bloqueia seu raciocínio. Neste jogo de anteontem não aconteceu uma só jogada de brilho, uma só jogada de verdadeiro talento. E não estou me referindo às “pedaladas” ou às graçolas que tanto encantam os torcedores ingênuos. Me refiro a jogada de talento em busca do gol, jogadas coletivas rápidas com toques conscientes de primeira, ou lances individuais em que o jogador parte para o objetivo com lucidez e velocidade, executando o que vai fazer sempre um segundo antes da chegada do zagueiro.

Parece até que quando joga diante da torcida brasileira o jogador brasileiro se sente obrigado a pensar mais na jogada. Me lembro de uma história antiga ocorrida nas cadeiras cativas do velho Estádio Presidente Vargas. A defesa adversária falhou no grande círculo e o atacante do Treze fugiu sozinho com a bola na direção da área, avançou, avançou, avançou, e chutou em cima do goleiro. Um torcedor da velha guarda sentado ao meu lado desabafou: “O problema é que deu tempo de pensar. Pensou, perdeu”.

A Seleção Brasileira anda um pouco assim. Recebe a bola e pára pra pensar. Vupt! Surgem do nada três arranca-tocos e mandam a bola pro Norte e o brasileiro pro Sul. E entra aí, também, a falta de tempo para preparar jogadas ensaiadas, movimentações combinadas, para que nossos jogadores já saibam o que vão fazer antes mesmo da bola chegar aos seus pés. Do jeito que as coisas andam, daqui a pouco eles estão recebendo um passe, matando a bola, e pegando o celular para ligar pra Dunga: “E agora, professor?...”

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