sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

1460) Os mandamentos do caubói (17.11.2007)




(Gene Autry)

No saite “BoingBoing”, um dos meus habituais fornecedores de assuntos, encontrei um curioso decálogo que, segundo Cory Doctorow, dono do saite, foi elaborado em 1930 por Gene Autry, famoso cowboy do cinema americano. (Se não foi por ele foi por um grupo de redatores pagos por ele, o que dá no mesmo.) 

É uma espécie de decálogo de mandamentos éticos do Cowboy, visto aqui não apenas como o vaqueiro que cuida do gado, mas como uma imagem polivalente em que se fundem o Vaqueiro, o Herói Solitário (vide Os Brutos Também Amam) e o Xerife Incorruptível (vide Matar ou Morrer).

Vejamos os mandamentos de Gene Autry. 

1) Um Cowboy nunca deve atirar primeiro, nem bater num indivíduo de menor estatura, ou tirar qualquer tipo de vantagem desleal. 

2) Um Cowboy nunca deve faltar com a palavra dada, ou trair a confiança que depositaram nele. 

3) Um Cowboy deve sempre falar a verdade. 

4) Um Cowboy deve ser sempre gentil com as crianças, os idosos e os animais. 

5) Um Cowboy nunca deve manter ou defender pontos de vista que envolvam preconceitos raciais ou religiosos. 

6) Um Cowboy deve socorrer pessoas que estão em situação difícil. 

7) Um Cowboy deve ser trabalhador. 

8) Um Cowboy deve manter-se sempre limpo em pensamento, fala, ação e hábitos pessoais. 

9) Um Cowboy deve sempre respeitar as mulheres, os seus pais, e os ideais de seu país. 

10) Um Cowboy deve ser patriota.

É visível que o ideal de Cowboy que Gene Autry tinha em mente era alguém como ele próprio, ou cowboys clássicos do cinema como alguns interpretados por Henry Fonda ou Gary Cooper. Nada a ver com cowboys mais problemáticos, mais niilistas, mais nietzschianos como Clint Eastwood. 

O conceito de cowboy contido nesse decálogo está muito próximo dos cavaleiros medievais. É a filosofia do “noblesse oblige”: a nobreza, nossa principal qualidade, nos obriga a proceder de maneira elevada, com ideais nobres, princípios altruístas. A nobreza consiste em tratar de maneira nobre até mesmo aqueles que não são assim. Consiste em proteger os fracos, não compactuar com os desonestos, servir como modelo de conduta. 

Ser nobre, para os verdadeiros cavaleiros medievais, não era afirmar-se como superior aos demais. Era afirmar-se como seguidor de um modelo superior de conduta ao qual todos os indivíduos deveriam se amoldar.

Este modelo de conduta é também muito próximo de um ideal ético que nos é bem familiar: o do Sertanejo, que é antes de tudo um forte, e que antes até de ser um forte é um honesto. Não tenho dúvida de que muitos autores dedicados ao Sertão, de Euclides da Cunha e Ariano Suassuna até Guimarães Rosa, subscreveriam, sem reler, a maioria dos itens do decálogo daquele modesto vaqueiro do cinema dos EUA. 

Cavaleiro medieval, samurai japonês, cowboy americano, sertanejo do Brasil, tudo isto são mutações de um ideal de conduta cada vez mais corroído pelo cinismo e pela despersonalização do chamado Mundo Moderno.






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