Aqui no Brasil a gente cresce num ambiente editorial de pouca formalidade, onde conceitos são usados sem muita definição. Nos EUA é diferente. Para certas coisas, os americanos são mais cartesianos do que os franceses.
No caso da classificação dos textos em prosa, por exemplo, aqui no Brasil se considera que “conto” é uma história curta, “novela” é uma história maiorzinha e que “romance” é uma história longa. Uma classificação empírica que é usada informalmente pela maioria das pessoas que escrevem, e por muitas que publicam.
Aqui no Brasil temos o hábito de contar os textos em termos de laudas, ou páginas: “Me mande um artigo de três laudas”, “Escrevi um conto de quinze laudas” e assim por diante. Já os americanos contam por palavras: “Semana passada escrevi um conto de cinco mil palavras”, “Fulano de Tal publicou este ano um total de duzentas mil palavras, entre contos e romances”.
Contar o número de palavras num texto é uma coisa meio espinhosa. Antes dos computadores, havia um cálculo médio de palavras por linha, que era multiplicado pelo número de linhas para ter o total por página, que por sua vez era multiplicado pelo número de páginas do manuscrito (ou datiloscrito, para ser mais exato).
Hoje, com o computador, é mais fácil. Para quem usa Word, basta clicar em “Arquivo”, e no menu clicar em “Propriedades” e em seguida em “Estatísticas”: vai aparecer um pequeno boxe dando o número de páginas, parágrafos, linhas, palavras, caracteres e caracteres com espaços.
O mercado editorial americano é tão grande que precisa ter classificações nítidas. Uma classificação básica dos textos em prosa é a seguinte:
Conto (“short story”), até 7.500 palavras;
Noveleta (“novelette”), entre 7.500 e 17.500 palavras;
Novela (“novella”), entre 17.500 e 40 mil palavras;
Romance (“novel”), de 40 mil palavras em diante.
E não me perguntem sobre essa distinção entre “novella” e “novel”, ou por que “romance” em inglês se diz “novel”: é um emaranhado tão grande que eu precisaria de várias colunas para discutir.
Só para ajudar no cálculo, lembro ao leitor que estes meus artigos têm uma média de 500 palavras. Um conto, portanto, tem até 15 vezes esta extensão, e assim por diante.
Podemos ter também o “mini-conto” (“short-short story”), que não tem uma extensão fixa mas em geral tem um tamanho menor que o presente texto. Alguns grupos de escritores costumam praticar o “drabble”, histórias que têm exatamente 100 palavras.
Há pouco tempo, o escritor Marcelino Freire editou em São Paulo uma antologia de mini-contos que podiam ter no máximo 50 letras (embora não houvesse limite de caracteres para o título, o que fez Millôr Fernandes, espertamente, produzir um conto curtíssimo com um título quilométrico).
A extensão de um texto é sempre um desafio. Um escritor competente deve ser capaz de contar a mesma história em uma frase, em um parágrafo, em uma página, em dez páginas e em duzentas páginas.
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